Título: Procurador denuncia 81 por ligação com máfia
Autor: Nelson Francisco
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2006, Nacional, p. A8

O procurador da República em Mato Grosso, Mário Lúcio Avelar, denunciou ontem 81 acusados de pertencer à máfia que fraudava licitações e vendia ambulâncias superfaturadas a prefeituras de oito Estados, desviando recursos do orçamento da União. Eles são acusados de formação de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros crimes. A lista de denunciados tem 27 nomes a mais que os 54 investigados pela Polícia Federal (PF). "Há assessores parlamentares que não estavam na lista de investigados", disse o procurador, sem citar nomes.

A quadrilha foi desbaratada pela PF na chamada Operação Sanguessuga, a partir de 4 de maio. O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que instaure 15 inquéritos para apurar suspeitas de envolvimento de 15 congressistas com compras fraudulentas. As investigações deverão tramitar em segredo de justiça.

O procurador disse que tem provas contra os ex- deputados Ronivon Santiago (PP-AC) e Carlos Rodrigues (sem partido) de quanto eles teriam recebido dos donos da Planam, entre eles Darci Vedoim, para apresentar emendas ao orçamento para a compra fraudulenta de ambulâncias. "Eles direcionavam as emendas para a base empresarial e recebiam a liberação de recursos pelos serviços prestados à organização criminosa", disse o procurador.

Ao todo, os acusados respondem a 75 inquéritos instaurados só para apurar fraudes em licitação. "A pena máxima é de 30 anos, como manda a lei", informou Avelar.

Em nota, o Ministério Público esclareceu que "o núcleo empresarial da quadrilha era composto por empresários estabelecidos em Cuiabá". A partir da sua base na capital do Estado de Mato Grosso, o bando manejava numerosas empresas de fachada. E com elas participava de licitações simuladas em todo o Brasil.

PREJUÍZO

Conforme o Ministério Público, estima-se que a organização criminosa tenha ocasionado prejuízos da ordem de R$ 110 milhões aos cofres públicos. "Parte desse dinheiro era revertida a servidores, sob a forma de propina. Outro tanto era submetido a processos de lavagem de capitais, sendo apropriado pelos criminosos", diz a nota.

O esquema contava com a participação de agentes infiltrados no Congresso e em cargos de destaque na Esplanada dos Ministérios. De acordo com o Ministério Público, os membros do bando empenhavam-se em direcionar o dinheiro público em benefício da quadrilha, seja por meio de emendas orçamentárias seja por meio de convênios celebrados pela União. Assim, foram denunciados ex-deputados federais, um ex-senador e assessores parlamentares, além de outros servidores públicos.