Título: PF quer ouvir o caseiro da república de Ribeirão
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2006, Nacional, p. A9

A Polícia Federal quer interrogar hoje o caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo - autor de denúncias que derrubaram o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci -, para concluir as provas sobre os responsáveis pela quebra de seu sigilo bancário e do vazamento dos dados para a imprensa. Dependendo do depoimento, a PF pode convocar de novo a jornalista Helena Chagas, diretora da sucursal de Brasília do jornal O Globo, e convidar o líder do PT no Senado, Tião Viana (AC), que tem a prerrogativa de escolher local e hora para depor.

Em entrevista ao Estado, no dia 14 de março, Nildo afirmou ter encontrado Palocci na mansão do Lago Sul alugada pela chamada república de Ribeirão. Na mansão, eram feitos negócios e ocorriam festas com garotas de programa, segundo a entrevista do caseiro.

No depoimento de amanhã, a PF quer confirmar se, de fato, Francenildo deu detalhes de sua conta na Caixa Econômica Federal ao jardineiro Leonardo Moura, empregado de Helena. O advogado do caseiro, Wlício Costa, contou à PF que a conversa em que seu cliente disse a Leonardo ter "um bom dinheiro na conta" ocorreu no dia 10 de março, uma semana antes, portanto, da data que o ex-presidente da Caixa, Jorge Mattoso, afirma ter pedido a pesquisa na conta do caseiro Nildo.

Tião Viana informou ao Estado que ouviu a história sobre movimentações suspeitas do caseiro de quatro fontes, uma delas Helena, mas nega que tenha qualquer responsabilidade pela quebra do sigilo do caseiro ou pelo vazamento do extrato para a imprensa. "Onde está o crime em ouvir tal história e conversar com uma jornalista sobre isso? Não entendo o propósito de tanta celeuma: só se for para difamar pessoas honradas", protestou ele, que ainda não decidiu se aceitará o convite da PF.

DATA

Caso a versão de Wlício esteja correta, ficará provado que o sigilo foi quebrado bem antes da data que Mattoso admitiu. Para a PF, isso indicaria que há outros envolvidos no crime, que ele estaria tentando proteger.

Os dados podem servir também para levantar quem vazou o extrato do caseiro para a imprensa, crime pelo qual só foi indiciado o jornalista Marcelo Netto, então assessor de imprensa de Palocci. O delegado Rodrigo Carneiro Gomes pediu a quebra de sigilo telefônico de Netto, mas até ontem a Justiça Federal não havia concedido. Gomes pedirá a prorrogação do inquérito e espera, agora, contar com os dados telefônicos para fechar as provas de que foi Netto quem vazou o extrato.

No dia 15 de março, Palocci chamou Helena à sua residência para que confirmasse a história e, no dia 16, o ex-ministro reuniu-se com dois assessores do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o chefe de Gabinete, Cláudio Vieira, e o secretário do Direito Econômico, Daniel Goldberg, ouvidos novamente esta semana pela PF.