Título: EUA prejudicam o desarmamento, diz Blix
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2006, Internacional, p. A14

Hans Blix, o ex-chefe dos inspetores de armas da ONU, disse ontem que a falta de disposição americana em cooperar nos acordos internacionais estava minando a eficácia dos esforços para conter as armas nucleares. Dizendo ser essencial que Washington adote ações sobre desarmamento, Blix declarou: "Se eles (Estados Unidos) assumirem a liderança, o mundo provavelmente os seguirá. Caso contrário, haverá mais testes de armas nucleares e novas corridas armamentistas."

Blix, que deixou seu cargo em 2003 logo após a invasão do Iraque, fez esses comentários na introdução de um relatório de 225 páginas para uma comissão sueca de financiamento internacional, entregue ontem ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan. A comissão, presidida por Blix e formada por membros de mais de uma dúzia de países, listou 60 recomendações para o desarmamento nuclear.

O relatório concluiu que o acordo sobre desarmamento tem sofrido um revés por causa de "um amplo ceticismo dos Estados Unidos com relação à efetividade das instituições internacionais e instrumentos, junto a uma busca de liberdade de ação para manter uma superioridade global absoluta em armamento e meios de distribuí-los." Blix, diretor da Agência de Energia Atômica de 1981 a 1997, foi depreciado pelo governo Bush por não encontrar armas de destruição em massa nos três anos de inspeções no Iraque. O relatório indica uma ligação direta entre o aumento de ações individuais e o declínio de cooperação. "Na última década, houve uma séria e perigosa perda de oportunidade e direção nos esforços de desarmamento e não-proliferação", diz o documento. A comissão pede a assinatura e ratificação do Amplo Tratado de Proibição de Testes e pede aos Estados nucleares que reduzam seus arsenais, parem de produzir plutônio e urânio para mais armas nucleares. Os Estados Unidos não ratificaram o Amplo Tratado de Proibição de Armas e, em 2001, abandonaram o Tratado de Antimísseis Balísticos, de 1972.

"Enquanto a reação da maioria dos Estados às violações dos tratados foi fortalecer e desenvolver as instituições e tratados existentes, os Estados Unidos, a única superpotência, têm olhado mais para seu próprio poderio militar como uma solução", disse Blix.