Título: Reação de Suzane surpreendeu PM
Autor: Laura Diniz e Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2006, Metrópole, p. C1

O policial militar Alexandre Boto foi o primeiro a chegar à casa de Manfred e Marísia von Richthofen para checar uma possível ocorrência de latrocínio. Mandou que os filhos do casal, Suzane e Andreas, esperassem do lado de fora. Quando voltou, não teve coragem de dar a notícia e pediu a Daniel Cravinhos, então namorado da jovem, que acabara de chegar ao local, que falasse com os dois.

"Daniel voltou para onde estavam Suzane e Andreas, abraçou os dois, abaixaram a cabeça e cochicharam. Boto prendeu o ar. Aquela era a hora... E nada aconteceu. Nenhum grito, nenhuma lágrima derramada, nenhuma tentativa de entrar na casa, nenhum choro contido. (...) Para sua surpresa, a menina se virou e perguntou: E o que é que a gente faz agora? Foi uma pergunta de ordem prática, inesperada. Pessoas em choque são incapazes de qualquer raciocínio prático, qualquer reação."

Essa narração é um dos pontos altos do livro O Quinto Mandamento - Caso de Polícia, lançado esta semana pela pesquisadora Ilana Casoy sobre o caso Richthofen. "Honrará teu pai e tua mãe..." é o subtítulo da obra, que revela bastidores do trabalho de peritos e policiais, acompanhado por Ilana desde a reconstituição do crime. Apesar de focar os aspectos técnicos, o livro é de leitura fácil.

Segundo Ilana, o crime chamou tanta atenção da sociedade porque Suzane tinha "o perfil clássico da filha que todos gostaríamos de ter". A motivação, contudo, ainda é pouco compreensível. "Mas o fato de ela ter pedido para administrar a herança dos pais é relevante nessa análise", disse ontem, em entrevista ao Estado.

Estudiosa da mente de assassinos e serial killers, Ilana não arrisca um diagnóstico psiquiátrico da jovem, que nunca foi submetida a uma avaliação mental.

"Há especialistas que consideram a hipótese de ela ter um transtorno de personalidade anti-social, mas sem exame nada se pode afirmar." Segundo ela, a jovem parece ter um certo distanciamento da realidade. Dias após o crime, segundos após confessar o assassinato diante dos policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Suzane virou-se para sua então advogada, Cláudia Bernasconi, e perguntou: "E agora, eu vou ser presa?"

"Claro que sim", respondeu a advogada.

Ilana disseca as pistas que a jovem, Daniel e o irmão dele, Christian, deixaram na cena do crime. Para ela, mesmo que Christian não tivesse comprado uma moto cara logo após o crime, a polícia desvendaria o caso. "Poderia demorar mais, mas desde o início a perícia já indicava a participação de gente de dentro da casa." No primeiro depoimento ao DHPP, Suzane tentou insinuar que o suposto latrocínio poderia ter sido cometido por uma das ex-empregadas da casa. Após o julgamento, a escritora pretende lançar um segundo livro, O Quinto Mandamento - Justiça Seja Feita, para mostrar os desdobramentos do caso.