Título: Míssil do Hezbollah mata jovem árabe
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2006, Internacional, p. A11

Na estrada que leva à aldeia de Maghar, na região bíblica da Galiléia, nada levava ontem a crer que todo o norte de Israel tem sido atingido diariamente por uma média de 100 mísseis e foguetes do Hezbollah. Na entrada da aldeia, no entanto, o comboio de jornalistas e fotógrafos e a multidão de curiosos indicava que havia algo de errado. A morte de uma menina de 15 anos, vítima de um dos mísseis da guerrilha libanesa, interrompeu o cotidiano dos cerca de 5 mil habitantes do vilarejo, na maioria drusos.

Pela primeira vez desde o começo do conflito entre Israel e o Hezbollah, há duas semanas, a aldeia foi atingida ontem. Foram quatro mísseis. Um caiu perto de uma mesquita no bairro muçulmano, matando a menina Doha Abbas, que estava em sua casa. Residências no bairro druso também foram atingidas.

O bombardeio dividiu ainda mais os cerca de 100 mil drusos que vivem em Israel. Estima-se que 20% apóiem o Hezbollah, principalmente os que vivem nas Colinas do Golan, em aldeias próximas à fronteira com a Síria.

Mas a maioria dos drusos é considerada fiel a Israel. Desde a criação do Estado judeu, eles fazem serviço militar e participam ativamente da vida nacional. Acredita-se que haja cerca de 1 milhão de drusos no mundo, a grande maioria espalhada por aldeias no Líbano, na Síria, na Jordânia e em Israel. Dissidentes do islamismo, eles seguem uma religião quase secreta. Entre os poucos preceitos conhecidos, no entanto, está o que ordena lealdade à terra natal. Os drusos israelenses mais religiosos, portanto, são israelenses com orgulho.

"O Hezbollah é um grupo terrorista que Israel precisa eliminar. Todos os israelenses, independentemente de fé ou etnia, devem se unir nesta hora", disse o cidadão mais famoso da aldeia, o druso Azzam Azzam, uma espécie de símbolo do patriotismo israelense. Acusado de espionagem em favor de Israel, Azzam passou oito anos numa prisão egípcia até ser libertado em 2004, depois da intervenção direta do ex-primeiro-ministro Ariel Sharon. Ele ficou famoso por desembarcar em Tel-Aviv envolto na bandeira nacional. todos cidadãos israelenses e deveríamos dizer não ao terrorismo do Hezbollah", continou Azzam.

Os bombardeios do Hezbollah já fizeram 4 vítimas árabes entre os 42 israelenses mortos desde o começo do conflito. Na semana passada, dois irmãos de uma família muçulmana, de 3 e 9 anos, foram mortos por um míssil que caiu em Nazaré, a maior cidade árabe de Israel, com 70 mil habitantes. O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, chegou a pedir publicamente desculpas pela morte das crianças, que chamou de shuadá (mártires). O terceiro árabe a morrer foi o cristão Habib Uwad, de 47 anos, em Akko (Acre), ao norte de Haifa. Ontem, foi a vez da menina Doha Abbas.