Título: Israel estuda zona de segurança
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2006, Internacional, p. A11

O ministro da Defesa de Israel, Amir Peretz, admitiu ontem que o país estuda criar novamente uma "zona de segurança" no sul do Líbano, caso não seja enviada para a região uma força multinacional de paz. O objetivo é impedir que combatentes do Hezbollah cruzem o território de Israel.

Já o líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, declarou estar aberto a discussões e negociações para um cessar-fogo (mediadas pelo governo libanês), mas frisou que não aceitará condições humilhantes para a trégua. Israel, com o apoio dos EUA, exige que o grupo liberte os dois soldados israelenses que capturou no dia 12 - fato que deu início ao atual conflito -, recue sua milícia da fronteira libanesa-israelense e comece a ser desarmado.

Nasrallah fez uma ameaça: o confronto vai entrar em "nova fase". O grupo lançará foguetes de maior alcance, disse, atingindo além de Haifa, terceira maior cidade de Israel, alvo freqüente dos ataques. Ontem um ataque do Hezbollah matou uma israelense (ler na página 13) e bombardeios de Israel mataram seis pessoas em Nabatiya, sul do Líbano. Nessa região, as tropas de Israel assumiram o controle de Bint Jbail, cidade de 30 mil habitantes a 4 quilômetros da fronteira.

O conflito também teve um desdobramento delicado num momento em que se intensificam os esforços para uma saída diplomática: um bombardeio israelense matou quatro observadores da ONU (um chinês, um canadense, um francês e um austríaco) na cidade libanesa de Khiyam, na fronteira com Israel. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, reagiu dizendo que Israel "parece ter atacado deliberadamente o posto", e exigiu uma investigação. Israel prometeu "uma investigação cuidadosa" e qualificou os comentários de Annan de "prematuros e errôneos".

Quanto à zona de segurança, Peretz não especificou se as tropas permaneceriam no Líbano ou se os militares tentariam manter a zona-tampão por meio de bombardeios, como fez nos últimos anos de sua ocupação do Líbano.

HEZBOLLAH SURPRESO

Mahmud Komati, vice-líder do comitê central do Hezbollah, admitiu ontem que o grupo não esperava que Israel reagisse de modo tão violento à captura dos dois soldados. Ele reiterou que o Hezbollah não vai depor as armas, como exigem Israel, os EUA e uma resolução da ONU aprovada em 2004.

"A verdade é que não prevíamos essa resposta, que (Israel) fosse explorar essa operação para lançar esta grande guerra conta nós", disse Komati. O Hezbollah esperava a "resposta costumeira, limitada". Em outras ocasiões, a reação israelense incluía breves bombardeios de bases do Hezbollah no Líbano e o envio de comandos para capturar militantes.

Komati citou as baixas do grupo: 25 mortos, sendo 17 em combate. Horas depois, o grupo elevou o saldo para 27. Até então, o Hezbollah só admitia 11 baixas. Oficiais militares de Israel dizem que o Hezbollah informa número de baixas menor do que o real e anunciaram a captura de um comandante do grupo.