Título: É preciso olhar a árvore inteira e não só um galho
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2006, Economia & Negócios, p. B1

Dizer que a explosão está sob controle é tapar o sol com a peneira. Mas não basta ver um galho; é preciso ver a árvore inteira.

Há, sim, uma disparada de gastos concentrados em despesas correntes (pessoal e custeio da máquina) e não em investimentos. Quem contrata pessoal e aumenta salários não pode, de uma hora para outra, reduzir a folha de pagamentos.

Baixos investimentos indicam falta de projetos, incapacidade de dar andamento aos existentes, excesso de burocracia e emperramento de PPPs (Parcerias Público-Privadas) que o governo Lula prometeu agilizar.

Mais três pontos a considerar. Primeiro, há um notável aumento de arrecadação de impostos. O lado mau disso é a excessiva carga tributária (que vai para 40% do PIB). O lado bom está em que a economia formal está mais robusta e o PIB, antes quase estagnado, está avançando.

Segundo, há forte recuo das despesas com o serviço da dívida. O corte de 5 pontos porcentuais nos juros básicos, desde setembro de 2005; a queda da dívida externa; e a redução da remuneração paga nos títulos públicos - tudo isso deve proporcionar uma economia de R$ 50 bilhões. Não é sobra de caixa porque os juros são incorporados à dívida. Mas ajuda a melhorar a qualidade do endividamento.

Terceiro, até onde se sabe, o superávit primário (sobra de arrecadação para o pagamento da dívida), de 4,25% do PIB (cerca de R$ 90 bilhões, neste ano), está sendo observado. Os Estados não estão sendo atrapalhados no cumprimento da parte deles porque, nas dívidas com o governo federal, o reajuste continua sendo pelo IGP-M, cujo avanço em 2005 foi de 1,2% e, neste ano, não deve passar dos 3,8%.

O ruim não é o governo gastar muito; é gastar mal.