Título: País pedirá 'cheque especial' ao FMI
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2006, Economia & Negócios, p. B5

Mesmo com contas externas positivas, o governo brasileiro não quer abrir mão de propor ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que crie uma linha de crédito - uma espécie de cheque especial - para seus sócios. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que, no caso do Brasil, seria "razoável" contar com uma linha emergencial de US$ 10 bilhões.

Ele explicou que, nessa linha de crédito "expressa", os países em dificuldade momentânea sacariam os recursos com maior liberdade. Hoje, os empréstimos do FMI são atrelados a programas econômicos cuja negociação leva algumas semanas.

Segundo o ministro, o Brasil e outros países vão cobrar a criação do programa na próxima reunião do FMI, em setembro. Para ele, o momento é adequado porque a maioria dos países emergentes está com contas equilibradas. Na linha, seria dispensado um grande número de trâmites burocráticos, como o envio de carta de intenções.

Mantega acredita que o crédito teria de ser de um valor substancial para ser eficaz, entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões, dependendo da capacidade de cada país. "Poderíamos criar regras para a definição dos países habilitados. Não é para qualquer um."

O ministro disse que países emergentes como o Brasil deram exemplo de boa gestão e fazem jus a essa confiança. Ressaltou, no entanto, que há resistência de países que nunca precisarão da linha. "A maioria dos países emergentes tem hoje contas mais bem administradas que países desenvolvidos."

Para ele, não há contradição entre a insistência do Brasil em pressionar o FMI a criar essa linha de crédito e o fato de as reservas internacionais do País terem superado a dívida externa do governo. "Continuo comemorando. O Brasil está numa posição sólida. Reitero isso: nunca o Brasil esteve tão bem", afirmou. "Mas amanhã podemos ter um conflito, uma guerra nuclear, o petróleo ir a US$ 150. Qualquer um pode precisar dos recursos."

A idéia de criação de um crédito de emergência não é nova. A equipe do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu a proposta, encampada pelo presidente Luiz Inácio Lula e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.