Título: Retomar negociação com UE não será fácil
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2006, Economia & Negócios, p. B6

Retomar as negociações entre Mercosul e União Européia - estratégia pós-fracasso da Rodada Doha sugerida pelo chanceler Celso Amorim - não será fácil. Empresários brasileiros avaliam que fechar um acordo com a União Européia é uma boa alternativa, mas de difícil execução. No fim de 2004, já emperrou uma tentativa de acordo entre os dois blocos regionais. Agora, para empresários, o Brasil entraria ainda mais fragilizado nas discussões.

"Antes estávamos negociando, ao mesmo tempo, Alca, OMC e União Européia, tínhamos mais poder de barganha - agora chegamos sem nada, estamos fragilizados", disse Antonio Donizetti Beraldo, coordenador da área de comércio exterior da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA). "Além disso, a União Européia está redesenhando sua estratégia, com mais foco na Ásia, não sei se ainda tem o mesmo interesse que tinha no Brasil."

Para a agricultura, seria muito importante um acordo com a União Européia, grande consumidora de produtos agrícolas brasileiros. Mas, para esse acordo se concretizar, seria necessário remover os obstáculos que fizeram as negociações empacarem em 2004. Naquela época, a União Européia ofereceu redução de tarifas agrícolas escalonadas e sujeitas a cotas. Os europeus preferiam esperar os acordos de Doha para balizar suas ofertas. O Mercosul, por sua vez, fez ofertas de redução de tarifas de produtos industreiais consideradas insatisfatórias pelos europeus.

Brasil e Argentina não conseguiram fechar uma posição comum sobre a abertura do mercado do Mercosul para veículos europeus. "Ficamos no mínimo denominador comum, por causa da falta de ambição da Argentina para oferecer abertura em produtos industriais", afirmou Donizetti.

Agora, os termos da negociação podem mudar. "Da outra vez em que tentamos, o acordo não saiu porque houve resistência da Argentina, que estava em um momento de crise", disse o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca. "Agora, a situação da Argentina melhorou muito, eles deveriam ter o bom senso de aceitar uma abertura maior."

Giannetti cogita até uma alternativa mais radical, a revisão do Mercosul. "Caso não cheguemos a um consenso, deveríamos rever o bloco", diz. Para ele, é preciso repensar o Mercosul se o bloco estiver impedindo novos acordos comerciais. "Passar de uma união aduaneira para um acordo de livre comércio, para poder negociar seus acordos em separado."

Osvaldo Douat, coordenador da Coalizão Empresarial Brasileira, acredita que chegou o momento de o governo se reunir com os empresários e retomar negociações com a UE. "Ficamos sem nada, não temos nenhum acordo comercial de peso, é hora de se mexer", diz.