Título: França pressiona por cessar-fogo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2006, Internacional, p. A11

A França continuou pressionando ontem por um cessar-fogo imediato entre Israel e o Hezbollah enquanto os EUA, que se opuseram a essa iniciativa numa conferência internacional em Roma, na quarta-feira, fizeram novas advertências à Síria e ao Irã, que responsabilizam pela crise na região.

O chanceler francês, Philippe Douste-Blazy, pediu a realização de um encontro de chanceleres no âmbito do Conselho de Segurança da ONU no início da próxima semana para discutir uma resolução que imponha o cessar-fogo. Mas a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, que ontem participava de um encontro regional na Malásia, repetiu a posição dos EUA de que uma trégua tem de ser "sustentável" e ter como base a eliminação de todas as milícias (referência ao grupo xiita libanês Hezbollah).

Ontem, houve novo desacordo entre os EUA e países europeus. O Conselho de Segurança aprovou por unanimidade um comunicado expressando "choque e pesar" pelo bombardeio israelense, na terça-feira, de um posto das forças de paz da ONU no Líbano, que resultou na morte de quatro observadores. Os EUA insistiram em remover qualquer alusão de que o ataque possa ter sido deliberado, como acusou o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

CESSAR-FOGO

A falta de um consenso em Roma para obter uma trégua imediata provocou mal-estar ontem entre países europeus e Israel, por causa de uma declaração do ministro israelense da Justiça, Haim Ramon, indicando que a conferência deu aval ao país para continuar com os bombardeios no Líbano.

"Recebemos ontem (quarta-feira) permissão, de fato, do mundo, parte cerrando os dentes, parte dando uma bênção, para continuar a operação, esta guerra, até que a presença do Hezbollah no Líbano seja apagada e ele seja desarmado", disse Ramon à rádio militar de Israel. A declaração provocou críticas. Ramon é um conselheiro próximo do primeiro-ministro Ehud Olmert.

O chanceler alemão, Frank Walter-Steinmeier, qualificou a frase de "má compreensão grosseira" e insistiu que o documento final da conferência não indicou que Israel deveria prosseguir com sua ofensiva. "Sem dúvida, houve posições divergentes em Roma, mas a maioria dos países, e isso inclui a União Européia, também especificou querer o fim imediato das hostilidades", disse o chanceler da Finlândia, Erkki Tuomiojo, país que atualmente preside o bloco europeu. "É interpretação totalmente errada porque a idéia básica da conferência de Roma era ajudar rapidamente a encerrar as hostilidades."

Pouco depois, ao receber uma delegação da UE, encabeçada por Tuomiojo, Olmert garantiu que seu governo não compartilha da interpretação de Ramon e, em vez disso, acata a declaração de Roma, que decidiu "trabalhar para conseguir um cessar-fogo".