Título: Israel chama 30 mil para treinamento
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2006, Internacional, p. A11

Um dia depois de ter perdido nove soldados em confrontos com o grupo xiita Hezbollah, no sul libanês, o governo israelense decidiu ontem não ampliar sua ofensiva militar terrestre no Líbano. A opção foi pela continuação dos ataques aéreos em amplas áreas e incursões limitadas em território libanês, onde o Exército pretende criar uma zona de segurança de 2 quilômetros de extensão perto da fronteira para impedir que o Hezbollah continue disparando foguetes contra Israel.

O governo resolveu, porém, convocar três batalhões da reserva para treinamento. O comandante-chefe do Exército, general Dan Halutz, mencionou 15 mil soldados. Mas fontes militares israelenses citadas pelo Washington Post falaram em "dezenas de milhares" e, segundo a Associated Press, serão 30 mil. "Não precisamos dessas tropas para atacar, mas para serem treinadas. Precisamos estar prontos para o caso de algo acontecer na Síria ou outro lugar", justificou um funcionário do governo. A chamada de três batalhões sugere que Israel se prepara para a possibilidade de um conflito prolongado, embora o governo negue. Comandantes militares pressionam pela expansão da invasão no Líbano, mas o ministro da Defesa, Amir Peretz, defende uma operação limitada, disseram funcionários, sob anonimato.

A última convocação de um número tão grande de reservistas foi em 2002, durante o pico da intifada (levante palestino contra a ocupação israelense).

O conflito com o Hezbollah - iniciado há 17 dias, quando combatentes do grupo invadiram Israel e capturaram dois soldados - continuou intenso ontem.

Tropas israelenses e guerrilheiros voltaram a entrar em confronto na cidade libanesa de Bint Jbail, a 2 quilômetros da fronteira, que quarta-feira foi palco da batalha mais acirrada até agora. Não há informações sobre baixas ontem. Na quarta-feira, nove militares israelenses morreram numa emboscada dos guerrilheiros quando o Exército israelense já dera a cidade como ocupada. O Hezbollah não informou suas baixas, que foram grandes.

A aviação de Israel bombardeou ontem várias partes do Líbano, atingindo rádios ao norte de Beirute e edifícios e estradas no sul e leste do país. Três motoristas e um motociclista morreram. Um dos bombardeios destruiu um edifício em Tiro no qual funcionava, segundo Israel, o centro local de comando de mísseis do Hezbollah responsável por ataques contra a cidade israelense de Haifa. O Hezbollah disparou pelo menos 110 foguetes, ferindo quatro israelenses.

Em Beirute, o ministro da Saúde, Mohammad Khalifeh, divulgou novo balanço das vítimas, estimando a morte de quase 600 civis até agora. Os hospitais receberam 401 corpos, disse ele, e a estimativa é que de 150 a 200 estejam sob escombros de edificações destruídas nos bombardeios. "Não conseguimos retirá-los porque essas áreas estão sob fogo", disse Khalifeh. Outras cifras oficiais indicavam na quarta-feira a morte de 433 libaneses (386 civis, 20 soldados e 27 militantes do Hezbollah). O grupo xiita teria perdido mais de 130 combatentes, nos cálculos dos israelenses.

De acordo com o governo israelense, 51 israelenses morreram, dos quais 19 eram civis.

Até agora as operações terrestres do Exército israelense se limitaram a Bint Jbail e ao vilarejo de Maroun al-Ras, a 500 metros da fronteira.

A ação militar no Líbano tem apoio de 82% da população, indicou uma pesquisa em Israel, e muitos políticos e comentaristas na mídia local criticam a lentidão do avanço das tropas. "Houve uma séria discussão entre os ministros e a decisão foi continuar com a estratégia atual", informou o porta-voz da chancelaria. Mark Regev. "Os ministros concluíram que não há solução rápida, que uma escalada dramática não traria uma solução mágica."

Peretz reiterou que Israel não tem intenção de abrir uma frente contra a Síria. "Mas os sírios sabem que estamos em guarda e eles estão prontos para qualquer mudança na situação", afirmou. "Esperamos que o Hezbollah não arraste a Síria para esta crise."