Título: Governo só vai rever índices no campo após eleição
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2006, Nacional, p. A10

As organizações que integram o Fórum Nacional da Reforma Agrária voltaram a pressionar o governo federal nos últimos dias para que reveja os índices de produtividade na agricultura. Mas o governo não deve tocar no assunto até o segundo turno das eleições.

Trata-se de uma opção essencialmente política. Desde a saída de Roberto Rodrigues do Ministério da Agricultura, no mês passado, não existem mais resistências no governo sobre a revisão. O atual titular da pasta, Luís Carlos Guedes Pinto, é um defensor da mudança.

Há dez anos, quando ainda estava na Unicamp, Guedes coordenou a pesquisa encomendada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) àquela instituição, que apontou a necessidade de revisão. O atual governo apenas atualizou aquele estudo para definir os novos índices, presentes na portaria que está parada na Casa Civil. Assinada pelos titulares da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, o documento só deve sair de lá quando a conjuntura política for mais favorável.

Teme-se que a mudança irrite ainda mais os ruralistas, às voltas com uma das piores crises do setor nas últimas três décadas, em decorrência de problemas como estiagem, taxa de câmbio desfavorável, falta de recursos para sustentação de preços. Por sua vez, os defensores da reforma agrária afirmam que a revisão está prevista na lei e deve ser feita para acelerar o processo de desapropriações de terras. Alegam que, com os índices atuais, é difícil qualificar alguma propriedade como improdutiva e, portanto, passível de desapropriação.

Se a portaria for assinada por Lula, o atual índice de produtividade de soja no Mato Grosso, que é de 1.200 quilos por hectare, passaria para 2.500, por exemplo.