Título: Aécio faz malabarismo entre tucano e petista
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2006, Nacional, p. A7

Candidato favoritíssimo à reeleição, o governador Aécio Neves (PSDB) executa um malabarismo digno do avô, Tancredo Neves, mito maior da tradicional matreirice política mineira. Aécio aparece bem tanto ao lado do candidato de seu partido ao Planalto, Geraldo Alckmin, quanto do principal adversário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Até agora tem dado certo. Aécio está com 73% da preferência do eleitorado de Minas de acordo com a última pesquisa do instituto Sensus - o que corresponde a cerca de 10 milhões dos 13,7 milhões de votos do Estado, o segundo maior colégio eleitoral do País.

A possibilidade de transferência dessa montanha de votos faz de Aécio o político mais cobiçado do momento. Anteontem, ele foi cortejado por Lula, com quem, exercendo o papel institucional de governador, dividiu o comando de uma cerimônia na cidade de Santos Dumont (MG). Ontem, já no figurino de candidato, esteve ao lado de Alckmin no anúncio do apoio do ex-presidente Itamar Franco ao presidenciável tucano.

Tamanha desenvoltura tem uma explicação. Aécio está de olho em 2010, quando pretende disputar a Presidência da República. Para sua conveniência, o melhor seria que Lula fosse reeleito agora, pois nesse caso o petista ficaria impedido pela lei de concorrer novamente ao Planalto daqui a quatro anos. Por uma questão de prudência política, porém, Aécio não se afasta de Alckmin, gesto que poderia ser interpretado pelo eleitor como uma traição e que produziria reações negativas no PSDB. O fato é que Aécio passou a considerar Alckmin um candidato competitivo e não quer se indispor com ele também.

JURAS DE LULA

Depois do encontro de anteontem com Lula, o governador contou a colaboradores que o presidente lhe dissera reservadamente que, caso fosse reeleito, poderia no final de seu segundo mandato apoiar Aécio, já que nenhum nome desponta hoje no PT como candidato natural em 2010. O governador desconfia das juras de Lula. "E o raciocínio é simples", diz um amigo de Aécio. "Com a reeleição, o PT iria renascer e se sentiria forte o suficiente para tentar fazer o sucessor de Lula."

Até semanas atrás, Aécio era visto com muita desconfiança pelo comando da campanha de Alckmin. Agora os assessores do presidenciável tucano encaram com mais otimismo o comportamente do governador de Minas. Para eles, a mudança foi provocada mesmo pela ascensão de Alckmin nas pesquisas. Publicamente, Aécio é evasivo ao falar da possibilidade de se lançar à Presidência daqui a quatro anos. "Quem disse que eu já sou candidato de 2010? Quem disse que eu não quero amadurecer um pouco mais? Apoio o Geraldo porque ele pode aparecer como uma novidade e um novo ciclo do presidente Lula poderia ser dramático e muito ruim para o País", afirmou ontem ao Estado.

Para demonstrar que seu engajamento em favor de Alckmin é para valer, Aécio trabalhou duro para convencer Itamar a declarar apoio ao tucano. Em retribuição, numa reunião reservada, o ex-presidente chegou a pedir a Alckmin que, em caso de vitória, não se lance à reeleição em 2010 e apóie um candidato de Minas. Ficou evidente que Itamar estava pedindo o apoio para Aécio. Após a conversa, Alckmin avaliou que "está bem melhor" sua situação em Minas. Mas, de acordo com o Sensus, Lula se mantém muito à frente do tucano entre os eleitores do Estado: tem 48% contra 25%.

PEDIDO DE EMPENHO

Os gestos de Aécio para ajudar Alckmin não se resumiram ao episódio de Itamar. Ontem o governador reuniu prefeitos de sua base e pediu empenho em favor do tucano. "Desafio alguém a mostrar que está ajudando o Alckmin mais que eu", afirmou. Ele indicou o prefeito de Betim, Carlaile Pedrosa, para mobilizar os colegas e iniciar um trabalho para tornar Alckmin mais conhecido em Minas. O prefeito parecia surpreso com a ordem: "Não temos nada, nem dinheiro, nem cartazes, mas vamos trabalhar duro e o Alckmin vai ter grande votação em Minas."

Do ponto de vista de Alckmin, Minas seria o terreno ideal para uma decisiva atropelada final na campanha. "O problema de Alckmin no Estado é que o número de municípios é muito alto. Se ele tivesse que visitar as 853 cidades mineiras, teria que ir a uma média de quase dez cidades por dia ao longo dos 90 dias de campanha e não iria mais a lugar nenhum", avalia o cientista político Marcos Coimbra, diretor do instituto Vox Populi. Na opinião dele, Alckminsó tem uma saída: aproveitar bem a propaganda na televisão.

Já outro especialista em pesquisas, Ricardo Guedes, do Sensus, avalia que o crescimento de Alckmin entre os mineiros depende realmente da vontade de Aécio, que pode em tese transferir parte de seus votos. Mas Guedes adverte que o eleitor de Aécio é uma espécie de eleitor de resultados. "O voto de Aécio não é tucano. Ele é visto com um político diferente, quase um peemedebista. Por isso, não para o eleitor não existe incompatibilidade em votar nele e no Lula", explica.