Título: Itamar apóia Alckmin e diz que Lula é arrogante
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2006, Nacional, p. A7
Logo após anunciar o apoio ao candidato da coligação PSDB-PFL, Geraldo Alckmin, à Presidência, o ex-presidente Itamar Franco (PMDB) afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou de "militante" na oposição a "arrogante" no comando do governo. "Minas Gerais precisa ficar alerta nesta eleição", disse ele, que foi embaixador em Roma na gestão Lula.
Entre as razões apontadas por ele estariam a deterioração ética e moral que o País vem sofrendo desde o mensalão. "O governo Lula virou um feixe de palha. Qualquer vento leva. O presidente permitiu um esgarçamento do governo. O PT está sendo prejudicado pela postura não ética do presidente. Ele não é um militante. É arrogante."
Itamar duvidou que Lula não soubesse do mensalão. "É difícil um presidente saber de tudo, mas uma coisa como essa, que teve tanta repercussão institucional, o presidente fica sabendo." No seu rosário de criticas ácidas contra Lula, Itamar acentuou que escolheu o apoio a Alckmin por desejar trilhar o caminho da ética. "Quando Lula escolheu seu caminho, suas companhias, nós fizemos nossa escolha pelo caminho da ética."
Em todas as declarações, o ex-presidente deixou claro sua mágoa com o PT e com Lula por terem trabalhado para que seu adversário, o ex-governador Newton Cardoso, obtivesse a legenda para disputar o Senado em Minas com apoio dos petistas. Itamar procurou minimizar o rancor que ainda cultiva por ter sido preterido. "Foi uma indelicadeza do Lula, mas não estou chateado. Só tenho a lamentar apenas. Quando você tem uma namorada e ela não te quer, você procura outra", disse, com bom humor.
Assessores e amigos do ex-presidente, contudo, afirmam que essa foi uma das razões que o levaram a apoiar o candidato tucano. Sempre sensível às marchas e contramarchas da política, Itamar tornou-se o primeiro governador não petista a apoiar Lula, ainda como candidato de oposição, depois de desentendimentos com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Alguns institutos de pesquisa desdenham o poder de ganhar votos de Itamar e garantem que ele tem uma imagem desgastada. "Em Minas o apoio de Itamar não representa muito. Ele não tem essa influência e os votos que se imagina", avalia Ricardo Guedes, do Instituto Sensus.
Mas Itamar recebeu apelos do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), e do ex-ministro José Dirceu para que reavaliasse sua decisão e não declarasse o apoio a Alckmin. "Até o ministro das Comunicações, Hélio Costa, enviou e-mail para dissuadir Itamar", revelou um amigo do ex-presidente.
Após a reunião de pouco menos de uma hora no apartamento de Itamar, em Belo Horizonte, que contou com a mediação do governador de Minas, Aécio Neves, Alckmin comemorou a declaração de apoio e comparou o ex-presidente a referências éticas e morais como Franco Montoro, Tancredo Neves e Mário Covas. "É um dia de grande entusiasmo porque eu sempre tive o presidente Itamar como referência ética."
Mais tarde, em São Paulo, Alckmin disse que agradeceu a Aécio, "que foi quem fez o meio de campo". E destacou que Itamar participará da campanha, colaborando com o programa de governo e "politicamente". Já na semana que vem ele deverá viajar com o tucano.