Título: EUA querem apoio do Brasil para que Índia abra mercado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2006, Economia & Negócios, p. B1

A representante dos Estados Unidos para o Comércio (USTR), Susan Schwab, reúne-se amanhã com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para tratar de um dilema pouco notado na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), suspensa segunda-feira. Aos Estados Unidos interessa que o Brasil interceda para que a Índia recue e concorde com a abertura de seu mercado agrícola. Se Nova Délhi cedesse, a China dificilmente manteria sua resistência nessa área. O resultado seria o acesso ampliado aos dois mercados importadores de produtos agrícolas do mundo mais relevantes que a União Européia.

Fontes de Genebra e de Brasília concordam que uma abertura do mercado indiano daria ao governo americano uma chance real de obter a aprovação de seu Congresso a um maior corte nos subsídios agrícolas. Ainda mais nesse período de eleições parlamentares, marcadas para novembro. Na segunda-feira, em Genebra, o impasse deu-se justamente nesse ponto.

Paradoxalmente, Índia e Brasil foram alvos ontem do senador americano Chuck Grassley, que ameaçou tirá-los do Sistema Geral de Preferências (SGP) dos Estados Unidos, em represália ao fracasso de Doha.

Apesar dos avanços na oferta da União Européia sobre acesso ao mercado agrícola, com a apresentação dos detalhes sobre o tratamento aos produtos sensíveis, a Índia negou-se a conceder acesso a 20% de seus itens agrícolas. A posição deve ser seguida pela China. Esse porcentual incluiria os produtos que esses países pretendem proteger da concorrência.

O ministro de Comércio indiano, Kamal Nath, quer que esses 20% sejam tratados como produtos especiais - categoria para a qual espera também a proteção completa contra qualquer redução tarifária ou nova regulamentação. Diante desse quadro, Susan anunciou que as propostas de acesso aos mercados agrícolas ainda eram insuficientes para que os EUA concordassem com um teto para suas subvenções menor que US$ 22 bilhões - oferta apresentada em outubro de 2005.

No momento em que pesa sobre os EUA a culpa pelo colapso da Rodada Doha, interessa a Susan mostrar que seu país não quer o fim das negociações e pretende retomá-las o mais breve possível. Nesse ponto, coincide com a opinião de Amorim, que teme a paralisação da rodada por mais de dois anos. Entretanto, Susan conhece a afinidade e o respeito entre o chanceler brasileiro e Nath, assim como a parceria na liderança do G-20, o grupo de economias em desenvolvimento que atua nas discussões agrícolas da OMC.

Para Washington, a tarefa de demover Nath caberia a Amorim. Ao chanceler brasileiro, entretanto, interessa evitar que os ganhos já obtidos sejam perdidos na retomada das negociações. Entre eles, o acerto sobre o fim dos subsídios às exportações agrícolas até 2013, firmado em dezembro.

Em tese, não há ilusões sobre a conclusão da Rodada Doha este ano. A expectativa é de que seja retomada em 2008, após o Congresso americano aprovar um novo mandato para o Executivo negociar acordos comerciais.