Título: BC fala em mais parcimônia: juro deve cair só 0,25
Autor: Fabio Graner e Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2006, Economia & Negócios, p. B5

A simples inclusão da palavra "maior" ao lado de "parcimônia" na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) bastou para que o mercado consolidasse a certeza de que o próximo corte nos juros básicos (Selic) será de apenas 0,25 ponto porcentual.

A ata, que explica o corte da semana passada de 0,5 ponto porcentual na taxa, para 14,75% ao ano, foi divulgada ontem. Apesar de mostrar um cenário econômico otimista, o BC deu sinais claros de que está mais preocupado com o impacto, na inflação de 2007, dos cortes feitos desde setembro de 2005.

O documento informa que a nova projeção do BC para o Índice de Preços ao Consumidor Ampo (IPCA) de 2007 está mais alta, embora permaneça abaixo da meta de 4,5%.

"O Copom entende que a preservação das importantes conquistas obtidas no combate à inflação e na manutenção do crescimento econômico, com geração de empregos e aumento da renda real, poderá demandar que a flexibilização adicional da política monetária (novas quedas do juro) seja conduzida com maior parcimônia", diz o texto da ata.

O texto da reunião de maio dizia: "O Copom entende que a preservação das conquistas (...) requer que a flexibilização adicional da política monetária seja conduzida com parcimônia".

Para o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, a pequena mudança no texto é um indício forte de que o ritmo de cortes vai desacelerar. "O Copom sinalizou de forma clara a intenção de fazer uma escadinha e desacelerar o ritmo de queda na Selic", afirmou Teles. Ele lembrou que, em abril, quando o BC reduziu o juro em 0,75 ponto porcentual, a ata estreou a expressão "maior parcimônia". Na reunião seguinte, o BC só cortou o juro em 0,5 ponto porcentual.

O professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Thadeu Filho, discorda dessa avaliação. Ele ainda vê a possibilidade de um novo corte de 0,5 ponto porcentual em agosto. "Não acredito que a ata amarrou claramente o corte de 0,25 ponto porcentual", disse.

Para Thadeu Filho, a expressão "poderá demandar" significa que o Copom quer esperar até a reunião dos dias 29 e 30 de agosto para decidir se mantém ou reduz o ritmo de cortes. "A diretoria do BC deixa em aberto o que poderá fazer na próxima reunião. Apesar da leitura do mercado, a ata é bastante otimista na avaliação do cenário econômico", observou.

O economista da Corretora Convenção, Fernando Montero, segue a linha de Teles. Para ele, o "poderá" na frase sobre a adoção de "maior parcimônia" é necessária para não "esvaziar" a próxima reunião. Ele chamou a atenção para as "inquietudes" do BC. Na ata, o Copom considera que a turbulência no mercado financeiro mundial pode ser "transitória", mas alerta que isso elevou os riscos para o comportamento da inflação no futuro, o que pode dificultar o trabalho do BC na manutenção das expectativas para os preços dentro da meta. "Nesse ambiente, cabe à política monetária manter-se especialmente vigilante", diz o texto.

Para Elson Teles, o BC passou mensagem de maior preocupação com o cenário externo, sobretudo com as próximas decisões do Federal Reserve (Fed, o BC americano) sobre os juros. "Chamou a atenção a avaliação da política monetária norte-americana.Eles pareceram mais preocupados e menos otimistas que o mercado", disse.

Outra preocupação demonstrada na ata de maneira mais incisiva foi com o petróleo. O BC adverte que a evolução dos preços "reforça temores" de que a alta pode durar mais tempo do que se esperava. Alerta, ainda, que "parecem menores as chances de retrocesso significativo nas cotações", o que torna menos provável o cenário de não haver aumentos da gasolina este ano. O texto lembra que não é só pelo risco de elevação dos preços dos combustíveis que a alta do petróleo preocupa, mas também por conta dos seus efeitos nos produtos da cadeia do setor petroquímico.