Título: BNDES troca juro por emprego
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2006, Economia & Negócios, p. B9

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reduzirá o custo do financiamento das exportações de montadoras que mantiverem ou aumentarem o número de empregados. O presidente da instituição, Demian Fiocca, anunciou ontem, após reunião no Palácio do Planalto, que para essas empresas haverá uma redução de 4,5% para 3,8% ao ano. É a primeira vez que o banco concede um benefício condicionado a uma meta social.

Também foi ampliado o financiamento para a produção de veículos para exportação, na linha chamada "pré-embarque". O BNDES emprestava até 30% do valor e agora passará a financiar até 55%. Para isso, as exportações devem ocorrer em até 12 meses após a contratação do crédito.

A mudança da linha de pré-embarque para o setor automotivo vem na esteira do esforço do governo para tentar reduzir o impacto negativo do câmbio sobre as exportações e gerar novos empregos. O BNDES estuda, ainda, a criação de novas linhas para outros setores afetados pela valorização do real. São iniciativas que se somam ao pacote cambial anunciado anteontem.

Fiocca explicou que o cálculo para verificar a manutenção do número de postos de trabalho vai considerar a média de vagas do ano anterior. "Então, é uma base alta, bastante exigente, porque 2005 foi um ano bom para o emprego no setor", afirmou, em entrevista coletiva ao lado do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogélio Golfarb, e dos presidentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva Santos, e da Força Sindical, João Carlos Gonçalves.

Antes do anúncio, eles estiveram reunidos com o presidente Lula e os ministros do Trabalho, Luiz Marinho, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan.

O presidente da Anfavea afirmou que o novo formato da linha de pré-embarque para automóveis é fundamental para manter o nível de competitividade da indústria automotiva. Segundo ele, 33% da produção brasileira é exportada, o que significará a venda para o mercado externo de 980 mil unidades este ano.

"Não dá para nos comprometermos com aumento das exportações porque viemos de um ritmo de aumento bastante significativo, mas essa linha e as outras medidas (cambiais) vão colaborar para melhorar a competitividade do setor automotivo", disse ele.

Golfarb acredita que será interrompido o processo de redução das exportações. Segundo ele, no primeiro semestre deste ano houve queda de 3,4% nas unidades exportadas na comparação com o mesmo período de 2005. Em valores, no entanto, as vendas cresceram 5,5%.

"Do ponto de vista do interesse das montadoras e dos trabalhadores, o que é importante são as unidades, porque a perda de unidades significa que, do ponto de vista da competitividade, você tem um problema", explicou.

Artur Henrique disse esperar que a iniciativa do BNDES de condicionar a redução do spread (diferença entre a taxa de captação e o juro cobrado pelo BNDES) ao número de empregos seja o primeiro passo para outras iniciativas de bancos oficiais. Mas ele não acredita que a medida possa reverter as demissões anunciadas pela Volkswagen. Artur Henrique lembrou que o fechamento de vagas faz parte da reestruturação mundial da empresa.

A redução do spread incidirá sobre 80% do valor do financiamento, que é corrigido pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Os outros 20% continuarão remunerados pela variação do dólar mais spread de 3% ao ano. A estimativa de Fiocca é que o BNDES financie US$ 1,5 bilhão em exportações de veículos por ano.

Segundo ele, a linha anterior, criada em setembro de 2005, liberou US$ 853 milhões até hoje. As empresas deverão fazer o pagamento do financiamento em uma única parcela, no 15º mês, ou em três parcelas, a partir do 13º mês após a contratação dos recursos.