Título: Governo controla CPI, com acusados entre integrantes
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2006, Nacional, p. A8

O governo deu ontem uma demonstração de força e garantiu o comando da CPI dos Sanguessugas. Instalada para investigar, no prazo máximo de 60 dias, as denúncias de compra superfaturada de ambulâncias para prefeituras com recursos de emendas de parlamentares ao Orçamento da União, a nova comissão de inquérito será presidida pelo deputado federal Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) e terá como relator o senador Amir Lando (PMDB-RO).

Candidato ao governo de Rondônia, Lando foi presidente da CPI do Mensalão, que terminou melancolicamente no fim do ano passado sem a aprovação de relatório e sem ouvir nenhum dos 19 parlamentares que sacaram recursos do valerioduto.

Dos 38 integrantes da CPI dos Sanguessugas, pelo menos dois - os deputados Inaldo Leitão (PL-PB) e Benedito de Lira (PP-AL) - são acusados de integrar direta ou indiretamente o esquema pela ex-servidora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, apontada como braço da quadrilha no Executivo. Benedito de Lira ontem mesmo pediu para deixar a comissão.

"Nunca tive e não tenho qualquer tipo de relação ou contato com os integrantes da quadrilha das ambulâncias. Nem sequer os conheço", reagiu Inaldo Leitão, em nota. "Aceitei a indicação do meu partido para integrar a CPI com o compromisso de contribuir com as investigações que resultem na efetiva punição dos criminosos envolvidos na maracutaia das ambulâncias", completou.

A assessores, Benedito de Lira garantiu que não integra o esquema e que a ex-assessora da Saúde se referiu apenas a um "Benedito", sem definir sobrenome. Apesar disso, ele deixou a CPI. Outro acusado de envolvimento, o líder do PP na Câmara, deputado Mário Negromonte (BA), pediu para não integrar a comissão logo após ser indicado. Como o PP não havia designado representante na CPI, Negromonte fora indicado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

DOCUMENTOS Eleito por 19 votos, Biscaia avisou que a CPI vai dar ênfase à análise de documentos e investigações feitas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público e, na primeira fase, não vai ouvir os parlamentares acusados de envolvimento com a máfia das ambulâncias. "Não é o momento agora de ouvir os parlamentares", afirmou Biscaia. "Sempre tive uma visão crítica de algumas comissões de inquérito, que não tinham compromisso com a investigação séria e profunda, e sim com audiências infindáveis", afirmou ele.

Inicialmente, ele pretende convocar para depor Maria da Penha, além de delegados e procuradores responsáveis pelo inquérito. A primeira reunião da nova comissão foi marcada para quarta-feira.

Em nota distribuída à imprensa, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), afirmou que a relatoria da CPI dos Sanguessugas caberia ao bloco PSDB-PFL, que é a maior bancada da Casa. "A indicação do relator pela liderança do PMDB poderia, portanto, ser questionada na Mesa do Senado, pois o PMDB é o maior partido, mas não a maior bancada. O questionamento, porém, atrasaria o início dos trabalhos de investigação, o que não interessa ao País", justificaram os tucanos.

No início de maio, a Polícia Federal deflagrou a Operação Sanguessuga, que apontou o envolvimento de parlamentares no esquema de venda de ambulâncias superfaturadas. Os ex-deputados Ronivon Santiago (PP-AC) e Carlos Rodrigues (sem partido-RJ) chegaram a ser presos. Pelo menos 15 deputados são suspeitos de participação direta na máfia das ambulâncias e são alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal. Em depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público, a ex-servidora Maria da Penha listou 81 envolvidos no esquema.