Título: Presidente inaugura escola incompleta
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2006, Nacional, p. A5

Só faltou chuva de pipoca. A menos de uma semana do anúncio oficial da candidatura à reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido ontem por dona Claudionor, a Canô, mãe dos cantores Caetano Veloso e Maria Bethânia, baianas, sambistas e até anões do orçamento em Santo Amaro, cidade histórica do Recôncavo Baiano, a 70 quilômetros de Salvador.

Caetano, ex-eleitor de Fernando Henrique, criticou o presidente recentemente, em entrevista à BBC de Londres: "Votar em Lula de novo? Não voto de maneira nenhuma. Acho absurdo votar em Lula de novo."

Ao inaugurar unidade do Centro Federal de Educação Tecnológica, que ainda não tem mesas e cadeiras, Lula falou de improviso por 20 minutos com moradores, prometendo estudar a construção de uma fábrica de papel, a reforma do hospital da cidade e a indenização de trabalhadores demitidos do Pólo Petroquímico de Camaçari.

Ele foi recebido na porta da unidade por dona Canô, de 98 anos. Virou costume políticos e autoridades beijarem a mão dela ao chegar à cidade. Com o presidente não foi diferente. Todo o tempo em que esteve na escola, fez questão de estar ao lado dela, posando para fotos.

Faixas de boas-vindas foram espalhadas pelo ex-deputado Genebaldo Correia, que foi acusado pela CPI do Orçamento, de 93, e renunciou para evitar a cassação, e pelo deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), que se livrou na última hora da lista de cassações. "Geddel e Genebaldo saúdam Lula", dizia uma faixa. "Ninguém sabe como será a onda Lula. Pode ser menor (que em 2002), mas não dá para saber a dimensão", afirmou Genebaldo. Presidente do PMDB local, ele ficou na área de convidados e foi chamado de "doutor" por petistas como a ex-prefeita de Salvador Lídice da Mata.

No discurso, Lula admitiu que a licitação para compra de móveis não foi concluída, mas assegurou que as aulas começarão em 1.º de agosto. Ele defendeu a construção de escolas profissionalizantes e de ensino superior no interior. "Se não tivermos coragem de gastar em contratação de professores, vamos ter depois de contratar carcereiros. Não são os estudantes que devem percorrer o Brasil em busca de escolas, mas os governos que devem colocar escolas onde as pessoas precisam."

Na platéia, uma mulher com uma camiseta onde se lia "Fica Lula" gritava "mentira" durante os discursos, inclusive o do presidente. Depois, ela conseguiu se aproximar e beijá-lo.

LUZ PARA TODOS

À noite, Lula inaugurou o Programa Luz para Todos no povoado de Paiaiá, na zona rural de Santo Estevão, a 150 quilômetros de Salvador. O evento reuniu 2 mil pessoas, que ganharam bonés e camisetas com a marca do programa, com o logotipo do governo, distribuídos pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Um dos convidados da festa foi o deputado Josias Gomes (PT-BA), acusado de envolvimento com o mensalão, que se sentou atrás de Lula no palanque na praça.

Depois, o presidente foi até duas casas ligar "os biquinhos de luz". Na da agricultora Luzia Maria Conceição, insistiu em que não fazia campanha política.