Título: Varig volta ao BNDES, para honrar o sinal
Autor: Alberto Komatsu e Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

O processo de venda da Varig voltou a um ponto inicial: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Hoje, às 10 horas, representantes do Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) retornam ao banco para negociar a liberação de recursos suficientes para efetivar o depósito de US$ 75 milhões (R$ 169 milhões) até sexta-feira. Na teoria, o TGV garante que conta com o capital de dois investidores. Na prática, recomeça a peregrinação ao banco estatal.

O BNDES vem sendo procurado pela Varig desde os primeiros sintomas da crise, em 2000. O caso foi avaliado à exaustão pela equipe técnica e, ao final, a possibilidade de empréstimo foi invariavelmente afastada pelo mesmo motivo: falta de garantias suficientes ao pagamento do financiamento.

A última tentativa de ajuda do banco foi em 10 de maio, quando o banco anunciou que estava oferecendo empréstimo-ponte, limitado a dois terços de US$ 250 milhões ao investidor interessado na compra da Varig. Ou seja, BNDES emprestaria US$ 166 milhões (R$ 416 milhões ao câmbio atual), que seriam imediatamente depositados na conta da Varig, com a condição de o investidor entrar com o terço restante. Também era exigida a apresentação de garantias.

O banco fez questão de frisar que a medida fora tomada "como parte dos esforços do governo federal na busca de soluções para a questão da Varig".

Na época, a consultoria Alvarez & Marsal, que cuida da reestruturação da empresa, falava do interesse de, no mínimo, 14 grupos. Só três candidatos se habilitaram aos recursos do BNDES, entre eles o TGV. Todos tiveram o pedido recusado por falta de garantias ou de carta de fiança bancária. O banco não comenta as propostas. Sabe-se, porém, que o TGV não conseguiria sequer arcar com o terço de recursos que lhe caberia.

O TGV foi o único candidato ao leilão. A proposta era quase metade do preço mínimo de US$ 860 milhões e, dos US$ 449 milhões, apenas cerca de US$ 114 milhões em dinheiro (R$ 285 milhões). Desde o dia 8, quando foi realizado o leilão, o grupo vem tentando provar que tem como pagar.

Nos últimos dias, surgiu o nome de José Carlos Rocha Lima, ex-presidente da VarigLog, como o investidor por trás do TGV. Chegou-se a dar como certa a associação dele no negócio com o fundo de investimentos americano Carlyle. Sexta-feira passada, o fundo desmentiu o interesse no negócio.