Título: Brasileiros sofrem para sair do país
Autor: Reali Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2006, Internacional, p. A10

O cônsul-geral do Brasil em Beirute, Michael Gepp, vem trabalhando nos últimos dias para retirar brasileiros do Líbano. "Ainda tem muita gente querendo sair", diz ele. Os ataques israelenses dificultam - e em alguns casos, impossibilitam - a locomoção entre diferentes regiões do país. Para o cônsul, os brasileiros no sul são considerados o problema maior a ser resolvido.

O aeroporto de Beirute foi atacado, impossibilitando a saída por avião. Além disso, forças israelenses impossibilitam a retirada por mar. Por terra, o problema são os bombardeios a estradas, que tornam arriscada a viagem para a Síria.

Gepp afirma, com dados de agências de turismo, que havia entre 300 e 500 brasileiros em viagem no Líbano antes do início do conflito. "Retiramos mais ou menos a metade deles", calcula. O número de brasileiros natos ou naturalizados no país é estimado pelo cônsul em 70 mil. Alguns brasileiros estão em casas de parentes, esperando o fim dos ataques. Outros passam por maiores dificuldades. "Muitos estão em hotéis e o dinheiro está acabando. Esses são nossa prioridade", disse o cônsul por telefone ao Estado.

Os brasileiros do sul têm recebido apoio da Cruz Vermelha, para deixar as cidades mais atacadas por Israel. "Eles estão sendo levados para cidades da vizinhança em que não correm perigo", diz Gepp.

Entre os que estão no Vale do Bekaa, no oeste, a dificuldade maior é chegar à Síria, apesar da pequena distância até a fronteira. "Em alguns pontos, a Síria fica apenas a 15 minutos de carro." Há a possibilidade, segundo Gepp, de aviões serem enviados para Damasco, para auxiliar na retirada dos brasileiros nessa região.

Gepp lembra que há muita dificuldade para os turistas contatarem o consulado. "Às vezes temos internet, às vezes não. As ligações telefônicas também estão muito difíceis, pois as linhas estão congestionadas."

Além dos bombardeios, a população tem enfrentado o aumento de preços de produtos e serviços que estão mais escassos ou perigosos para serem conseguidos. "Todo mundo quer ganhar dinheiro à custa da desgraça dos outros", comenta Gepp.

O cônsul-geral cita o exemplo do transporte de brasileiros, em ônibus, para aeroportos de outros países. "Anteontem, retiramos um grupo para Adana, na Turquia, e a empresa de transporte de ônibus cobrou US$ 7 mil. Ontem, cobraram pelo mesmo serviço US$ 21 mil." Gepp diz que começa a faltar farinha de trigo no país, e pode ocorrer a mesma inflação nos preços do pão, por exemplo.

O agente de viagens Khaled Fayez Mahassen, de 54 anos, é libanês naturalizado brasileiro e vive em São Paulo. Ele está com cerca de cem clientes brasileiros no Líbano, tentando sair do país. "Alguns estão com parentes e estão seguros", diz Mahassen. Seis dos clientes de sua agência, a Lynden, conseguiram chegar à Síria.

Com vários outros brasileiros, o agente não consegue se comunicar há dias. "Não consigo falar com meus clientes localizados no sul desde o dia 13." Mesmo os que chegam ao país vizinho tem dificuldades para se conseguir passagens aéreas, pelo aumento no número de pessoas buscando sair da região.

Mahassen, também correspondente da rádio libanesa Sawat al-Chaab, manteve contato ontem com a equipe da emissora, que relatou as dificuldades enfrentadas. "Segundo eles, há falta de sangue nos hospitais." O abastecimento de comida e água ainda não foi afetado, mas há problemas também com a falta de energia elétrica.