Título: Discurso de Olmert decepciona israelenses
Autor: Reali Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2006, Internacional, p. A10

Anunciado com antecedência e esperado com ansiedade pela população, o primeiro discurso do primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, à nação desde o começo do conflito com L¿bano, na quarta-feira, deixou a desejar. Foi o que disseram analistas políticos logo após o discurso, transmitido ao vivo por todos os canais de TV e de rádio. A expectativa era a de que a fala desse legitimidade a Olmert para conduzir o país num momento de guerra. Afinal, além de não ter um passado militar, Olmert está no posto há apenas três meses e meio.

"Neste momento, o que a população israelense precisa é de um Churchill. E Ehud Olmert provou que não é um estadista dessa grandeza", disse o jornalista Ari Shavit, do Haaretz.

Segundo Shavit, o texto lido por Olmert no plenário da Knesset (o Parlamento), em Jerusalém, não conseguiu cumprir nenhum de seus dois objetivos: motivar a população em meio a uma guerra e apresentar soluções para o conflito com a guerrilha libanesa Hezbollah. "O discurso não foi comovente o suficiente para incentivar os milhões de israelenses que estão, há seis dias, refugiados em abrigos antiaéreos. E nem deu esperanças de que haja alguma solução à vista", completou.

No discurso, que durou cerca de 25 minutos e foi escrito pelo próprio líder israelense, Olmert listou duas condições para o fim dos bombardeios israelenses no Líbano: a libertação dos dois soldados israelenses seqüestrados na semana passada pelo Hezbollah e o afastamento da guerrilha libanesa da fronteira com Israel. Mas, segundo os críticos, ele foi vago quanto à negociação dessas condições.

"Como ele quer que os soldados sejam devolvidos? Isso só vai acontecer com a intervenção da comunidade internacional, o que não foi citado. Olmert deu poucas esperanças para os pais dos soldados em cativeiro", opinou Nachman Shay, que foi porta-voz do Exército durante a Guerra do Golfo, em 1991.

Aluf Benn, outro jornalista e articulista conhecido, reclamou de um certo narcisimo no discurso, dizendo que o primeiro-ministro fez questão de listar feitos seus da época em que era prefeito de Jerusalém. Mas esqueceu de citar seu antecessor, Ariel Sharon, esse sim considerado pelos israelenses como um líder militar de primeira grandeza. "Ele só citou Rudy Giulianni, o ex-prefeito de Nova York. Não evocou nenhum ícones nacional como Ben Gurion, Yigal Alon ou Moshe Dayan", reclamou Benn.

*Especial para o Estado Tel Aviv