Título: Annan e Blair pedem força de paz
Autor: Reali Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2006, Internacional, p. A10

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, propuseram ontem o envio de uma força internacional de paz ao sul do Líbano e a Rússia ofereceu um contingente militar. Essa foi a primeira iniciativa diplomática de fato, depois de seis dias de conflito entre Israel e o grupo islâmico libanês Hezbollah, que já causou a morte de 215 libaneses (201 civis) e 24 israelenses (12 civis).

"A única maneira de conseguir o fim das hostilidades será com o envio de uma força internacional para a área, capaz de impedir os bombardeios contra Israel e, portanto, dar a Israel um motivo para parar seus ataques contra o Hezbollah", afirmou Blair, ontem, em São Petersburgo, último dia da cúpula do Grupo dos Oito (o G-8, os sete países mais industrializados e a Rússia). Ele ressalvou, porém, que isso levaria tempo.

Mas um cessar-fogo parece muito longe de se concretizar porque nem os EUA - um dos países com poder de veto no Conselho de Segurança (CS) da ONU - nem Israel nem o Hezbollah modificaram suas posições quanto aos pressupostos para uma solução diplomática.

A crise começou na quarta-feira, depois que a guerrilha do Hezbollah invadiu território israelense, capturou dois soldados e matou oito. Israel iniciou, então, um bloqueio aéreo e naval ao Líbano e passou a bombardear diariamente o país. Como condição para libertar os soldados, o Hezbollah exige que Israel liberte prisioneiros palestinos, libaneses e outros árabes.

Durante a cúpula do G-8, encerrada ontem, os líderes mundiais culparam "forças extremistas e aqueles que as apóiam", expressaram preocupação com as baixas civis e pediram contenção a Israel. Mas não exigiram um cessar-fogo imediato.

O Hezbollah qualificou ontem as propostas de trégua de "condições israelenses" e acusou os enviados estrangeiros ao Líbano de dar tempo a Israel para continuar com sua ofensiva militar. Já o governo israelense recuou apenas de sua meta de destruir a milícia do Hezbollah. " Devolvam os soldados e tirem o Hezbollah do sul do Líbano e nós terminamos (com os ataques). Não lançaremos nem mais uma bomba nem mais uma bala", disse Asaf Shariv, assessor do primeiro-ministro Ehud Olmert.

Na ONU, o embaixador americano, John Bolton, afirmou ontem - na terceira sessão do CS desde quinta-feira para tratar da crise - que qualquer ação deve ser adiada até que o enviado especial da ONU à região, Vijay Nambiar, retorne a Nova York para dar seu parecer. Nambiar deve regressar somente na sexta-feira. "Fizemos alguns primeiros esforços promissores", disse Nambiar em Beirute , onde se reuniu com o primeiro-ministro Fuad Siniora e o presidente do Parlamento, Nabi Berri - que é um forte aliado do líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah. "Eles concordaram em alguns pontos e isto será apresentado a Israel. Se houver uma resposta promissora, será levada ao Líbano", explicou Nambiar, sem entrar em detalhes. À noite ele chegou a Israel.

Bolton deixou claro não ver motivo para uma força de paz. "Essa força terá poder para lidar com o real problema? O problema real é o Hezbollah. Ela terá força para lidar com o Irã e a Síria, que apóiam o Hezbollah?", perguntou Bolton, observando que há 28 anos a ONU mantém um contingente na fronteira do Líbano e Israel. O assessor da Casa Branca Frederick Jones enfatizou que desde o início do conflito o presidente George W. Bush defende Israel e repete que não exigirá um cessar-fogo. "Apesar de acusações de outros líderes mundiais de que os israelenses foram longe demais", complementou. Sem saber que seus comentários estavam sendo gravados, ontem Bush criticou a posição do secretário-geral da ONU (ler ao lado).

FRANÇA

As mais altas autoridades estrangeiras ontem no Líbano eram o primeiro-ministro da França, Dominique de Villepin, e seu chanceler, Philippe Douste-Blazy. A missão dos ministros franceses visa a expressar o apoio ao Líbano (antiga colônia francesa), mediar uma solução diplomática e supervisionar o repatriamento de cerca de 20 mil franceses.

Durante a cúpula do G-8, o presidente Jacques Chirac da França definiu os bombardeios israelenses no Líbano e os disparos do Hezbollah contra o território de Israel como comportamentos "violentos e aberrantes", lançando um novo apelo, no final da reunião para que cessem os ataques mútuos, cujas conseqüências tem sido "dramáticas" para as populações dos dois países, especialmente a libanesa".

Em uma entrevista ao diário francês Le Monde, Villepin acusou Israel de "praticar o terrorismo em suas formas mais duras".

A França é tradicional aliada do Líbano, país que ficou sob seu controle desde a 1ª Guerra Mundial (após a derrocada do império otomano) até sua independência, em 1947.