Título: Déficit ronda a balança com a China
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

A invasão de produtos da China já atinge 120 dos 132 principais produtos manufaturados importados do país e, pela primeira vez desde 2000, o Brasil deverá fechar a balança comercial em déficit com o parceiro comercial. A previsão é da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Para o embaixador na China no Brasil, Chen Duqing, não está havendo invasão. Segundo ele, o real valorizado estimula as compra do exterior e os produtos da China ajudam a combater a inflação.

"Houve valorização do real, que permite comprar mais. Os produtos chineses ajudam a baixar a inflação", comentou Duqing, durante evento no Rio. Ele também afirmou não acreditar que haja superávit favorável à China este ano. Ainda assim, comentou que desde 1974 a China teve apenas quatro superávits na balança com o Brasil e "nunca reclamou". No início da madrugada de hoje (horário do Brasil) o governo chinês anunciou que a economia do país cresceu 10,9% no primeiro semestre, o índice mais alto da última década.

O vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro, projeta um déficit comercial com a China este ano. Nos últimos cinco anos, o País teve saldos favoráveis nas relações comerciais com o país asiático. O valor, contudo, vem caindo. Em 2003, o superávit chegou a US$ 2,4 bilhões, em 2005 fechou com US$ 1,5 bilhão e, nos primeiros seis meses deste ano, está ao redor dos US$ 166 milhões - no mesmo período do ano passado o superávit era de US$ 436 milhões.

Até maio, a balança com a China vinha deficitária, o que foi revertido com o saldo positivo de US$ 228 milhões em junho. Para Castro, boa parte desta reversão se deveu ao desempenho das commodities. Segundo o vice-presidente da AEB, a entrada dos manufaturados chineses fará com que a balança volte a ser deficitária.

Ele também comentou que as vendas brasileira dependem de commodities, que hoje estão favorecidas pelos preços elevados. "As exportações da China para o Brasil crescem de maneira contínua e as nossas vendas para lá ainda dependem de minério e de soja", comentou Castro. O executivo destaca que, além do câmbio favorável às importações, a China está se voltando estrategicamente mais ao comércio com os países emergentes, depois de ter consolidado sua presença nos Estados Unidos e Europa. O levantamento da AEB mostra que as importações da China não se limitam mais a poucos itens.

No primeiro semestre, as importações de tubos para receptores de televisão provenientes da China cresceram 505%, outras câmeras de vídeo 136%, fones de ouvido 292,6%, placas de memória 187%, e moldes industriais 165%. Segundo o embaixador chinês, em alguns casos os empresários brasileiros deixaram de compras itens que vinham de outros mercados, como a Europa, e passaram a importar da China.

Durante a entrevista, Duqing reiterou que o Brasil deve ser mais agressivo comercialmente, divulgando mais seus produtos. Quanto aos investimentos no País, ele comentou que "a China não esfriou o interesse de trabalhar com o Brasil".

Segundo Duqing, a China tem investimentos ainda relativamente pequenos no Brasil, em torno de US$ 150 milhões, mesmo nível brasileiro no parceiro asiático.

CRESCIMENTO A economia chinesa cresceu 10,9% no primeiro semestre, oíndice mais alto da última década, apesar das medidas do governo para controlar o crescimento e conter os setores mais aquecidos. O Produto Interno Bruto (PIB) nacional alcançou os 9,14 trilhões de iuanes (US$ 1,14 trilhão), anunciou o porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas, Zheng Jingping.

O número ultrapassa amplamente a última previsão do Banco Popular da China (central). Em março, o cálculo era de crescimento do 10,3% no primeiro semestre e 10% no segundo.