Título: Comissão da UE vê falhas no controle da febre aftosa
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

Depois de mais de 10 dias de visitas ao sul do Mato Grosso do Sul, veterinários da União Européia apontaram ao governo brasileiro falhas no controle da febre aftosa e no sistema de rastreabilidade adotado pelo País. "Têm pontos falhos que foram detectados", comentou o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Marcio Portocarrero. A rastreabilidade é o sistema que reúne dados referentes aos bovinos desde o nascimento até o abate. Com base nessas informações é possível rastrear um carregamento e chegar à origem do lote, procedimento fundamental quando há problemas de qualidade para o consumidor final.

Ontem, o secretário anunciou novas regras para o sistema. A intenção era agradar os europeus, mercado que absorve de 20% a 25% das exportações brasileiras de carne bovina. As novas regras só valem a partir de 2008. "Espero que eles fiquem satisfeitos", afirmou. A principal mudança no sistema é que os animais, cuja carne tenha como destino mercados que peçam a rastreabilidade - hoje só União Européia e Chile fazem esse tipo de exigência - precisam conviver juntos em propriedades certificadas pelo governo. Hoje, animais rastreados ou não podem ser criados numa mesma fazenda.

Apesar dos esforços, os europeus sinalizaram que não ficaram muito satisfeitos com o que viram. Ao visitar o Mato Grosso do Sul, eles avaliaram o modelo de rastreabilidade antigo. As novas regras foram traduzidas para o inglês e entregues aos técnicos europeus. Os veterinários também inspecionaram as ações do governo para conter os focos de febre aftosa diagnosticados no Estado. "Eles não entenderam algumas ações feitas na região", comentou uma fonte do ministério.

Entre as "não conformidades", contou a fonte, os europeus apontaram falhas no cadastro de propriedades na região sul do Mato Grosso do Sul.Eles criticaram investigações epidemiológicas feitas nos municípios de Japorã, Eldorado e Mundo Novo, onde foram descobertos os focos. O curioso é que os pecuaristas do Mato Grosso do Sul admitiram rapidamente os problemas sanitários e aceitaram o abate de animais, o que não aconteceu no Paraná.

De forma reservada, técnicos do ministério comentaram que, se os europeus visitassem o Paraná, a reabertura do mercado europeu seria impossível no curto prazo. Por causa da aftosa, o bloco suspendeu as importações de carne bovina fornecida pelos dois Estados e por São Paulo. "Eles também criticaram o monitoramento na fronteira", contou a fonte.

Quando houve o problema sanitário, uma das hipóteses era de que animais doentes tinham sido trazidos do Paraguai, onde os animais custam menos, para o Mato Grosso do Sul. As críticas dos europeus reforçam a declaração feita na semana passada pelo embaixador da União Européia no Brasil, João Pacheco, de que o "Brasil tem de levar a sério" o controle sanitário de produtos agrícolas.

A União Européia enviará um relatório com as conclusões da visita em 20 dias ao Brasil. O governo brasileiro terá 25 dias para se defender.