Título: Varig fica mais perto da falência
Autor: Alberto Komatsu e Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2006, Economia & Negócios, p. B22

A possibilidade de falência da Varig ficou muito mais forte ontem. Os credores da empresa vetaram modificações ao seu projeto original de reestruturação. Essas mudanças abririam caminho para que a proposta de compra feita pela VarigLog, de US$ 500 milhões, pudesse participar do novo leilão da empresa marcado para amanhã. Trabalhadores e estatais aprovaram o novo plano de reestruturação, que foi recusado pelas empresas de arrendamento de aviões (leasing).

¿Se esse resultado levar à falência da Varig, o responsável é a GE (General Electric)¿, disse o presidente da Varig, Marcelo Bottini, após o fim da assembléia de credores. Segundo ele, os advogados da empresa vão tentar reverter o resultado da reunião. Além disso, haverá um encontro hoje com o juiz Luiz Roberto Ayoub, responsável pela recuperação judicial da empresa, a quem caberá tomar uma decisão após o veto.

Fontes do setor contam que o administrador judicial da Varig, a consultoria Deloitte, já teria indicado que o caminho para a Varig é a falência, caso o novo plano de venda fosse rechaçado. Bottini afirmou ontem que o veto da GE teve peso porque ela integra um grupo de 17 divisões dentro da própria empresa, sendo que cada uma teve direito de voto. Além disso, o executivo informou que a GE teria vendido seus créditos para o banco JP Morgan.

Segundo um representante das empresas de leasing, o veto teria sido a opção dessas companhias porque na falência eles receberiam mais cedo que no cronograma previsto pelo novo modelo de venda da Varig. Pela oferta da VarigLog, a nova Varig, que seria leiloada, voaria inicialmente com 13 aviões (da frota atual de 61 aeronaves) e até 2 mil funcionários, o que custará a demissão de em torno de 8 mil funcionários.

A empresa que seria leiloada ficaria com as marcas Varig e Rio Sul, além de todos os horários de vôo (hotrans) e permissões de pouso e decolagem (slots) dessas companhias. Toda a operação comercial, que inclui vendas de passagens em balcões, ficaria com a nova Varig. O programa de milhagem Smiles, com 6 milhões de usuários e R$ 70 milhões de passivo, o que inclui passagens já emitidas e que não foram usadas, também faz parte do pacote.

O leilão, de qualquer forma, continua agendado para amanhã. Eventuais investidores que quiserem participar terão de depositar US$ 24 milhões, que é o valor do empréstimo que a VarigLog tem feito para custear a operação da ex-controladora (US$ 20 milhões) até a data da venda mais multa de 20%. Além disso, o potencial investidor tem de apresentar uma carta de fiança bancária de US$ 75 milhões. Esse valor corresponde à primeira parcela do aporte total de US$ 485 milhões previsto pela ex-subsidiária e terá de ser depositado no prazo de 48 horas após a homologação da compra.

As modificações ao plano original de recuperação judicial foram discutidas até momentos antes da realização da assembléia de credores da Varig, iniciada ontem por volta das 11 horas, mas que foi suspensa até às 15 horas por causa das mudanças. Credores como o fundo de pensão Aerus pediram mais tempo para analisar o plano, que foi enviado por e-mail em torno das 22h30 de domingo pelo presidente da Varig, Marcelo Bottini.

Antes da votação, Bottini pediu aos presentes que votassem a favor das mudanças ao plano de recuperação judicial. ¿Estamos comparando a proposta que temos hoje com a proposta de falência. Vocês estão aqui para votar pela continuidade da Varig¿, disse o executivo, ressaltando que um eventual processo de quebra da Varig derrubaria o valor dos ativos imobiliários para R$ 33 milhões, ante recente avaliação de R$ 120 milhões.