Título: Pobre não dá trabalho, diz presidente
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2006, Nacional, p. A5

Em dia de mau humor explícito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que é mais prazeroso e fácil governar para os pobres e criticou indiretamente movimentos sociais aliados ao Palácio do Planalto.

Ao participar de um ato para comemorar a entrega de 11,1 milhões de benefícios do Bolsa-Família, ele criticou os que pensam de forma "pequena" no Senado por retardar a aprovação do Fundo da Educação Básica (Fundeb) e quem gasta dinheiro para participar de protestos contra o governo.

"Os pobres não dão trabalho, pois não têm dinheiro para ir protestar em Brasília, alugar ônibus ou sequer ir ao sindicato", disse. "Só vão à igreja rezar e pedir ajuda a Deus." Lula afirmou que não é raro as autoridades não olharem para os pobres porque eles não estão nas ruas protestando e fazendo passeatas contra o governo - prática recorrente de movimentos aliados seus, como o MST e sindicatos filiados à CUT.

"Muitas vezes o pobre quer apenas um pão, enquanto muitas vezes o rico, cada vez que encosta perto, quer um bilhão", disse Lula, no discurso para uma platéia de cerca de duas mil pessoas num ginásio de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte.

Diferentemente de outros eventos, não se contagiou pelos gritos da platéia.

Ao pedir a unidade do PT e do PMDB em Minas, Lula chamou de "querido companheiro" o ex-governador Newton Cardoso, antes acusado pelos petistas por práticas de corrupção.

Em outro compromisso, em Ouro Branco (MG), o presidente criticou a legislação eleitoral, desta vez queixando-se da impossibilidade de efetuar contratações após o dia 30. Ao discursar na solenidade em comemoração aos 20 anos da siderúrgica Açominas, do Grupo Gerdau, o presidente, candidato à reeleição, disse que a lei eleitoral impede o governante de exercer sua função. "O Brasil é o único país em que as eleições impedem que a gente governe."

Ontem, o governador Aécio Neves (PSDB) evitou aparecer em público ao lado do presidente. Os dois conversaram por 15 minutos numa sala reservada do aeroporto de Belo Horizonte.