Título: CPI alega falta de tempo e não ouvirá parlamentares
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2006, Nacional, p. A10

Nenhum dos parlamentares denunciados pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento com a máfia das ambulâncias será ouvido pela CPI dos Sanguessugas. A informação é do presidente da comissão, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), ao argumentar ontem que o tempo de trabalho é exíguo - 60 dias - e será apresentado relatório parcial com o resultado preliminar das investigações. A Procuradoria já pediu ao Supremo o indiciamento de 15 parlamentares e pretende solicitar o de mais 30 ou 32 congressistas.

"Entendo que os parlamentares apontados de ter envolvimento com o esquema não devam ser inquiridos pela CPI. Se chamássemos todos eles para depor, iríamos inviabilizar a comissão", afirmou Biscaia, durante a primeira reunião da CPI, ontem. Ele defendeu que a comissão dê um prazo, ainda a ser definido, para que os parlamentares envolvidos se manifestem por escrito.

"Cerca de 45 parlamentares deverão ser denunciados ao Supremo. Esses inquéritos estão sob sigilo de Justiça. Uma vez identificados, vamos dar um prazo para que apresentem suas defesas", completou.

As investigações da comissão serão baseadas nas apurações e nos documentos da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público sobre o esquema de compra superfaturada de ambulâncias com recursos do Orçamento da União.

Ontem, os integrantes da CPI aprovaram sete requerimentos com a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de pessoas e empresas ligadas ao esquema dos sanguessugas. Entre as empresas estão Planam e Santa Maria. Maria da Penha Lino, apontada como o braço da quadrilha no Ministério da Saúde, o empresário Darci José Vedoin, sócio da Planam, Cléia Maria Vedoin (mulher de Darci), Alessandra Trevisan Vedoin (filha de Darci) e Helen de Paula Vedoin (sócia da Planam), também estão na lista. A CPI não votou a quebra de sigilo de Luiz Antonio Trevisan Vedoin, filho de Darci, apontado como integrante da máfia.

Os requerimentos de quebra de sigilo quase não puderam ser aprovados em razão da falta de quórum. A comissão aprovou ainda as convocações de Maria da Penha, Darci, Luiz Antonio e do advogado da Planam, Luiz Aires Cirineu. Todos já foram ouvidos pela PF.

Não foram aprovadas as convocações e a quebra de sigilo de 27 assessores e ex-assessores de parlamentares que também foram denunciados pelo Ministério Público Federal. Na terça-feira, a CPI ouvirá o delegado da Polícia Federal Tardelli Boaventura, responsável pela Operação Sanguessuga, que desmontou o esquema. Também pretende ouvir o procurador da República em Cuiabá (MT) Mário Lúcio Avelar.

Na semana que vem, a CPI deverá também tomar o depoimento do deputado Robson Tuma (PFL-SP), que foi relator da comissão de sindicância da Câmara que chegou a iniciar investigações sobre os parlamentares envolvidos com a máfia das ambulâncias. A comissão quer que a Corregedoria envie os dados sigilosos sobre o suposto envolvimento de deputados encaminhados à Câmara pela Justiça Federal de Mato Grosso.

"A dificuldade desta CPI é quebrar o corporativismo da Câmara. É preciso saber quem está aqui para investigar e quem está aqui para ser cúmplice", reclamou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), ao defender a transferência imediata dos documentos.

A PF descobriu que a Planam vendia ambulâncias a preços superfaturados para as prefeituras que faziam parte do esquema. Os veículos eram comprados com recursos de emendas apresentadas por deputados e senadores.