Título: Sucessor deve ser 'homem da reforma agrária'
Autor: Fabíola Salvador e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discute hoje na reunião de coordenação política o nome do engenheiro agrônomo Luís Carlos Guedes Pinto para substituir Roberto Rodrigues no cargo de ministro da Agricultura. Guedes Pinto ocupa desde janeiro do ano passado a Secretaria Executiva do Ministério e é o candidato natural ao cargo por indicação, inclusive, do próprio Rodrigues.

Profissional "nota 10" e conhecido como o "homem da reforma agrária", segundo assessores, Guedes Pinto nunca deixou prevalecer suas posições durante os 17 meses em que dividiu a condução da política agrícola com Rodrigues.

Defensor da reforma agrária e responsável pela estruturação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão que presidiu nos dois primeiros anos de governo com a responsabilidade de garantir a execução do Programa Fome Zero, a opção por Guedes Pinto reforça seus vínculos com o governo e ideais petistas.

Ele chegou ao governo pelas mãos do então ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Graziano, atualmente assessor especial de Lula.

Na época, Graziano indicou Guedes Pinto para a presidência da Conab e o também amigo Clayton Campanhola, para presidir a Embrapa. Campanhola perdeu o cargo depois de uma crise de mais um ano com Rodrigues, que discordava da política da empresa de dar ênfase à agricultura familiar.

À frente da Conab, Guedes Pinto deu eficiência ao órgão, profissionalizou as superintendências estaduais, não concordando com indicações políticas e seu trabalho permitiu visibilidade ao programa Fome Zero.

Em janeiro do ano passado, deixou a Conab e foi ser o secretário-executivo de Rodrigues, que não resistiu à indicação. Afinal, tratava-se de um amigo de mais de 40 anos. Os dois foram colegas de turma de formatura da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz , da Universidade de São Paulo, em 1965.

A confirmação de Guedes Pinto para ministro é considerada uma "solução lógica" pelos colegas. Ele é considerado um profissional competente e extremamente rigoroso, qualidades que garantiram uma ação bem-sucedida na solução de questões administrativas da pasta.

Guedes Pinto, embora mantenha excelentes relações com o governo e com o PT, foi apontado como um profissional que "jamais" tentou fazer prevalecer uma posição pessoal nas discussões de equipe. "Todos sabemos que ele é um defensor da reforma agrária, mas foi fiel ao ministro Rodrigues e às posições do ministro. Nunca divergiu das posições do ministro", contou um assessor. "Vamos ver como ele será como ministro", sugeriu esse assessor.

Guedes Pinto formou-se em engenheiro agrônomo em 1965 e, em 1973, fez o curso de doutorado na Esalq. Em 1991, fez pós-doutorado na Universidade de Córdoba, na Espanha. Desde 1983, é professor da Unicamp, já tendo lecionado na Universidade Católica de Campinas e na Universidade de Brasília. Ele foi secretário de Agricultura do Estado de São Paulo e presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária de Campinas, além de diretor da Companhia de Entrepostos e Armazens Gerais de São Paulo.

Em 2003, ocupou a presidência da Conab, de onde saiu em janeiro de 2005 para assumir a secretaria executiva do ministério da Agricultura.