Título: Saída de Rodrigues prejudica Lula
Autor: Fabíola Salvador e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

A demissão do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, poderá pesar eleitoralmente contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no reduto dos produtores rurais e favorecer o seu principal adversário, o tucano Geraldo Alckmin, que tem feito um discurso de duras críticas ao desleixo do governo com o setor.

A avaliação entre ruralistas no Congresso ontem foi a de que Rodrigues era "o ministro certo no governo errado", referindo-se à percepção do setor de que o Palácio do Planalto elegeu como prioridade os pequenos agricultores em detrimento do agronegócio.

"O apoio a Lula, que era pouco entre os produtores, pode minguar", afirmou o senador Jonas Pinheiro (PFL-MT), um dos principais interlocutores de Rodrigues no Congresso. "O agronegócio está em luto. Quem vai nos defender?", indagou o senador oposicionista, que apoiava o ministro.

Para ele, o candidato tucano poderá capitalizar eleitoralmente essa crise, conquistando apoio entre os produtores. "O ponto de apoio do agronegócio junto ao governo era o ministro Rodrigues e, com sua saída, ficamos órfãos", completou Pinheiro.

ALTERNATIVA Mesmo antes do anúncio da demissão, ruralistas já buscavam em Geraldo Alckmin uma alternativa ao descontentamento do setor com o governo. "Lula está perdendo o apoio dos produtores rurais", avisou o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO) a Alckmin na noite de terça-feira passada durante a festa junina promovida pelo senador José Jorge (PFL-PE), candidato a vice do tucano.

Além de Caiado, reforçou as críticas ao governo o deputado Abelardo Lupion (PFL-PR). Um grupo da bancada ruralista marcou uma reunião de trabalho com Alckmin para esta semana.

PRESSÕES A crise de Rodrigues é reflexo também das pressões da bancada ruralista. Insatisfeita com as ações do governo, a bancada queria endurecer os ataques a Lula mas convivia com o constrangimento de "ter que bater em Rodrigues" para poder desestabilizar o governo.

Com a saída do ministro, os ruralistas se sentem, a partir de agora, liberados para o ataque e foi o que fizeram ontem. "Os ruralistas estão liberados para agir", avisou Lupion a Rodrigues.

"A agricultura vive a maior crise dos últimos anos. A minha posição é que o governo quer aparelhar o ministério como instrumento político para a reeleição do presidente", completou Caiado, observando que faltam dois dias para que o governo fique impedido de fazer novas nomeações. "Estou raciocinando como deputado que conhece a máquina do PT e como ele utiliza a máquina para fazer uma eleição", insistiu Caiado.

"É o ministro certo no governo errado. A gente percebe claramente o viés ideológico do governo. O governo apóia outros setores, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), os assentamentos. Rodrigues representava o setor produtivo empresarial", afirmou Waldemir Moka (PMDB-MT).

Ontem, havia a preocupação de o cargo estar sendo negociado com o PMDB em troca do apoio a Lula nos Estados nas alianças regionais que precisam ser concluídas nesta semana. "Isso é especulação", negou o senador José Sarney (PMDB-AP), um dos principais interlocutores de Lula no partido.