Título: Três anos e meio de brigas e algumas conquistas
Autor: Fabíola Salvador e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

Em seus três anos e meio à frente do Ministério da Agricultura, o empresário Roberto Rodrigues colecionou atritos com diferentes áreas do governo, das mais ortodoxas (na equipe econômica) às mais petistas, nos ministérios do Meio Ambiente e de Desenvolvimento Agrário. Na liderança do agronegócio, Rodrigues vivia se queixando da burocracia e da leniência governamentais, mas também venceu alguns embates importantes que levaram o governo a adotar decisões contrárias ao pensamento hegemônico no PT, como a liberação do plantio da soja transgênica e a legalização dos "organismos geneticamente modificados" na Lei da Biossegurança.

Dono de fazendas em São Paulo, Maranhão e Piauí, Rodrigues aceitou o cargo porque dizia acreditar que, pela primeira vez, a agricultura seria tratada como prioridade no governo. Desde os primeiros momentos, entretanto, sofreu com a política fiscal restritiva do colega da Fazenda, Antonio Palocci, e pela falta de verbas para custear as atividades da pasta ou financiar os produtores.

FEBRE AFTOSA As atividades de defesa sanitária foram uma das mais afetadas pelos cortes no orçamento. A conseqüência foi a descoberta de 41 focos de aftosa em Mato Grosso do Sul e Paraná neste ano. Rodrigues responsabilizou o Ministério da Fazenda, mas Lula apontou a "irresponsabilidade" dos produtores.

POLÊMICA COM MANTEGA Na briga por recursos, Rodrigues se viu numa saia-justa ao ter dito a parlamentares do Nordeste, em março de 2004, que o então ministro do Planejamento, Guido Mantega, era "vagabundo". Na época, ele negociava com o Planejamento uma solução para a greve dos fiscais agropecuários.

DÍVIDAS DO SETOR AGRÍCOLA Desde 2004 o ministro batalhava para reforçar as verbas para a comercialização agrícola e a renegociação das dívidas do setor, de R$ 19 bilhões. Só neste ano o governo concordou em lançar um pacote agrícola.

POLÍTICA EXTERNA Rodrigues também foi crítico da política externa em relação à liberação da venda de produtos agrícolas. Em 2003, criou uma câmara para discutir o assunto, o que desagradou ao Itamaraty. Na época, condenou a "intransigência" do Ministério das Relações Exteriores.

BIOSSEGURANÇA O ministro foi vitorioso no governo em sua luta para legalizar o uso de "organismos geneticamente modificados", mas passou a enfrentar dificuldades na fase de implementação da Lei de Biossegurança, que define regras para experimentos e plantio de sementes transgênicas. Rodrigues conseguiu que a lei fosse reformulada, mas vinha reclamando da demora das decisões da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança.

MST E REFORMA AGRÁRIA Rodrigues também reagia à falta de uma ação mais enérgica do governo em relação ao MST. Ele foi voto vencido na proposta de fusão do seu ministério com o do Desenvolvimento Agrário.

POLÍTICA CAMBIAL O ministro nunca escondeu suas divergências com a política cambial do governo, que levou à valorização excessiva do real e prejudicou as exportações agrícolas.