Título: 'Foi um impasse com a burocracia da área econômica'
Autor: Fabíola Salvador e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

Representantes do setor agrícola atribuem o pedido de demissão do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, a divergências entre as políticas que ele defendia para o setor e a orientação do Ministério da Fazenda em relação a essas propostas. Para Luiz Suplicy Hafers, presidente da Associação dos Cafeicultores do Paraná e ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, a saída de Rodrigues se deve ¿ao impasse entre a coragem dos agricultores e a burocracia ortodoxa da área econômica do governo¿.

Segundo Hafers, a grave crise por que passa a agricultura é reflexo do que chamou de conjunção astral de câmbio desvalorizado, juros altos, infra-estrutura precária e cenário mundial desfavorável. ¿Os agricultores pagam pela ousadia de terem apostado no crescimento.¿

O direcionamento político e administrativo do governo, muitas vezes contrário ao do Ministério da Agricultura, pode ter contribuído para a decisão de Rodrigues¿, afirma Orestes Prata Tibery Júnior, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu.

O presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus), Ademerval Garcia, observa que o ministro fará falta por sua competência. ¿Roberto Rodrigues foi um dos mais bem preparados ministros da agricultura e esta é uma perda significativa para o País. Ele é uma pessoa muito conhecida no exterior e, portanto, um avalista do agronegócio brasileiro por causa da sua credibilidade¿.

Para o setor citrícola, no entanto, nada deve ser alterado, na opinião do presidente da Abecitrus. ¿O setor é muito estabilizado e organizado. A nossa dependência do governo deriva de aspectos de exportação e defesa fitossanitária e é sabido que o governo não tem dado verba para a defesa".

Na avaliação de Duarte Nogueira, deputado estadual pelo PSDB e ex-secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Rodrigues foi vítima do ¿total descompromisso¿ do governo com o setor que gera um terço do PIB brasileiro.

Já Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira de Agribusiness e presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, espera que o governo passe a dar mais importância para o agronegócio. ¿O governo precisa refletir muito sobre os rumos que tomará daqui para frente e qual, realmente, será o grau de importância que dará para todos os setores do agronegócio, responsáveis por 30% do PIB, 37% dos empregos e mais de 40% das exportações do País.¿

Na opinião de Paulo Koslovski, presidente da Organização das Cooperativas do Paraná, além da questão pessoal, também pesou na decisão o fato de Rodrigues não ter conseguido sensibilizar a área econômica para pôr em prática as medidas necessárias para reduzir os problemas da agricultura. ¿Espero que seu substituto seja alguém que tenha identidade com o setor e força política suficiente para poder negociar com outros ministérios.¿