Título: BC eleva projeções de inflação
Autor: Gustavo Freire e Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2006, Economia & Negócios, p. B7

O relatório trimestral de inflação do Banco Central (BC), divulgado ontem, reforçou a visão de muitos analistas de que daqui para a frente a instituição adotará maior parcimônia na redução da taxa básica de juros, a Selic. O documento mostra que o BC elevou a previsão de inflação no chamado cenário de referência. A projeção do IPCA para 2006 subiu ligeiramente, de 3,7% para 3,8%, e para 2007 aumentou dos 3,9% do relatório anterior, de março, para 4,2%.

No cenário de referência, o BC faz uma simulação em que mantém constante a Selic, em 15,25%, e a cotação do dólar em R$ 2,30. No cenário de mercado,em que o BC considera as previsões de juros e câmbio das instituições financeiras, a previsão para o IPCA de 2007 ficou em 5,2%.

Embora tenha caído 0,2 ponto percentual ante o relatório de março, a estimativa ainda está acima da meta oficial de 4,5% para o ano que vem. A taxa prevista para 2006, nesse cenário, caiu de 4,6 para 4,3%.

O diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, evitou avaliar o efeito dessas projeções sobre os próximos passos da política monetária, que a partir de agora terão efeito muito mais em 2007 do que em 2006. "Temos que esperar as próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária, que decide a taxa básica)", limitou-se a dizer.

Para a economista-chefe do Banco Mellon Global Investments Brasil, Solange Srour, o documento mostra um cenário "benigno" para a inflação futura, o que permite a continuidade da queda nos juros.

Nas estimativas para este ano, a mudança mais significativa no relatório de inflação foi a redução, de 4,6% para 4,3%, na projeção para o IPCA no cenário de mercado, abaixo da meta de 4,5%. Para Bevilaqua, o fato de as projeções estarem abaixo da meta não significa que o BC cortou menos do que poderia na taxa.

"A inflação é afetada por fatores transitórios. Nosso objetivo é manter a inflação, ao longo do tempo, ao redor da meta. Ficar abaixo é um avanço institucional, já que nos últimos anos sempre ficamos acima", disse ele.

O economista-chefe da Corretora Concórdia, Elson Teles, acha que o relatório do BC tem um problema de defasagem das projeções. Segundo ele, o BC faz os cálculos levando em conta uma inflação de 0,25% em junho, quando o mercado espera deflação. "Essa diferença impacta não só a estimativa para este ano, como para o ano que vem, uma vez que se reflete na inércia inflacionária (inflação herdada para o ano seguinte)", disse.

No relatório, o BC manteve em 4% a projeção de crescimento da economia neste ano. Mas alterou a participação dos setores no resultado, segundo Bevilaqua por conta do desempenho obtido até maio.

A mudança mais significativa ocorreu na agricultura, cuja projeção de crescimento caiu de 4,8% para 3,8%. Na indústria, o BC revisou a estimativa de expansão de 5,3% para 5,4% e nos serviços, de 2,9% para 3%.