Título: Rodada Doha corre contra o relógio, alerta diretor da OMC
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2006, Economia & Negócios, p. B10

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o francês Pascal Lamy, advertiu ontem que a Rodada Doha, como é conhecida a atual fase de negociações para liberalização do comércio internacional, estará em risco se não houver acordos prévios sobre os capítulos agrícola e industrial até segunda-feira. O alerta foi feito a dois dias do embate entre os ministros dos 30 países mais representativos na OMC, incluindo o Brasil, no Green Room, que começará amanhã à tarde.

Em entrevista coletiva, Lamy destacou que espera ver "os três lados do triângulo" - Estados Unidos, União Européia (UE) e o Brasil com seus sócios do G-20 - colocarem sobre a mesa de negociações propostas mais ambiciosas sobre "as três colunas" da Rodada Doha.

Em outras palavras, Lamy quer que Washington concorde em fazer um corte mais acentuado nos subsídios aos produtores americanos, que Bruxelas aceite uma maior abertura de seu mercado para produtos agrícolas e o grupo de economias em desenvolvimento, liderado pelo Brasil, reduza a proteção tarifária ao setor industrial. "Temos três dias para isso. Este é o momento da verdade. Não quero adiar essa decisão. Senão, o projeto inteiro estará em risco", insistiu ele. "Não sou eu quem dá as ordens. É o relógio, e ele está funcionando. Meu dever é olhar o que é necessário para essa Rodada ser concluída neste ano ou no início do próximo."

ATRASO O calendário de Doha já teve vários atrasos. O último foi causado pelo fracasso na conclusão dos pré-acordos, que deveria ter ocorrido em 30 de abril e passou para 30 de julho. Como precaução, Lamy fixou o objetivo de concluir os pré-acordos dos temas mais polêmicos - agricultura e indústria - até 3 de julho. O período restante permitiria a conclusão em outras áreas.

Lamy mostrou-se reticente a falar em um 'plano B', nem citou a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de aproveitar o encontro dos líderes do G-8, em julho, para obter decisões políticas sobre o assunto. O G-8 é formado pelos sete países mais ricos do mundo, mais Rússia. Lamy já deixou claro que se opõe a essa idéia.

O relógio mencionado por Lamy marca o mandato dado pelo Legislativo americano para o Executivo negociar acordos comerciais sem aprovação do Congresso. O prazo vai até 1º de julho de 2007. Se a Rodada não for concluída até o início de 2007 para os EUA a ratificarem no 1º semestre, o esforço de negociação pode estar perdido.

Mas, anteontem, a representante dos EUA para o Comércio, Susan Schwab, deu sinais de que as negociações do fim de semana não devem ser marcadas pela afobação. "Não vamos nos apressar para respeitar um prazo."