Título: TV digital japonesa é oficializada no Brasil
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2006, Economia & Negócios, p. B17
O governo dá hoje um passo decisivo para mudar a televisão aberta no Brasil. O presidente Lula assina às 10h30, em cerimônia no Palácio do Planalto, o decreto que estabelece as regras para a implantação da TV digital no País. São normas que vão mudar a cara dos 70 milhões de televisores existentes no Brasil ao longo dos próximos 10 anos, quando todas as TVs do País serão digitais. Também hoje será assinado um Termo de Compromisso entre os governos brasileiro e japonês, com a presença do ministro do Interior e da Comunicação do Japão, Heizo Takenaka, formalizando a adesão do Brasil ao padrão tecnológico japonês.
O decreto cria o Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD-T), que terá grande parte do padrão japonês, mas com inovações tecnológicas desenvolvidas aqui. As regras do decreto são importantes porque, a partir delas, emissoras e indústrias poderão começar a trabalhar para mudar os equipamentos de transmissão e a produzir os novos televisores.
Somente depois essa mudança é que a TV digital poderá começar a chegar à casa dos brasileiros, o que deve acontecer, numa previsão mais otimista, no final de 2007. E deve começar pelas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, avançando gradativamente para as demais capitais e outras grandes cidades. As redes de TV terão prazo de sete anos para cobrir digitalmente todo território nacional.
A população poderá continuar a usar o televisor que hoje tem em casa, que funciona no sistema analógico, até 2016, quando esse tipo de transmissão deixará de ser feito. Como os televisores digitais, que custam cerca de R$ 10 mil, ainda vão levar cerca de três anos para baixar de preço, o consumidor poderá comprar um conversor de sinais ("set top box"), que é uma caixinha que transforma o sinal digital em analógico, o que vai melhorar consideravelmente a imagem, acabando com chuviscos e fantasmas. A estimativa é de que a versão mais simples desse conversor começará custando US$ 50 (cerca de R$ 110). Há um plano, inclusive, de financiar a compra desse aparelho, por meio de instituições financeiras. O consórcio de pesquisa que desenvolve o conversor é liderado pelo Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI), da Universidade de São Paulo (USP).
O governo quer usar essa caixinha, que tem as dimensões de um DVD, para promover a inclusão digital. Uma das condições básicas do modelo brasileiro de TV digital é a interatividade, que permite usar o conversor também para substituir o computador em funções próprias da internet, como ter um e-mail, fazer compras e acessar dados do FGTS e INSS, por exemplo. É que no Brasil somente 8% da população tem computador e 12% tem acesso à internet, enquanto 98% das residências possuem televisão.
A TV aberta, mesmo digital, continuará sendo gratuita e seu sinal passará a ser recebido também em aparelhos portáteis, como o telefone celular, e em aparelhos em movimento, instalados em barcos, ônibus e veículos em geral. Com a transmissão digital, a qualidade das imagens vai melhorar significativamente. Mas o padrão de imagem vai depender do modo em que for feita a transmissão, que pode ser em três níveis. O mais elevado deles será a alta definição, com imagens cristalinas e muito mais nítidas. A definição padrão tem qualidade um pouco inferior, podendo ser comparada à de um DVD. O nível mais baixo será a imagem projetada por um televisor analógico que tiver um conversor acoplado a ele. Os dois níveis mais altos somente poderão ser vistos por quem tiver o televisor digital.
A digitalização vai criar novos canais e aumentar a quantidade de programas que serão exibidos ao mesmo tempo, como na TV por assinatura. É que o sinal digital ocupa menos espaço no espectro de radiofreqüência do que o sinal analógico.
Pelas regras, as emissoras de TV comerciais tanto podem transmitir em alta definição como em definição padrão. Neste último caso, cada uma delas poderá transmitir até quatro programas diferentes simultaneamente. Quem continuar usando o televisor analógico terá que adquirir o conversor vai ter acesso à multiprogramação.