Título: Câmbio pesa nos eletrônicos
Autor: Nilson Bandão Júnior ... [et al]
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

A indústria de eletroeletrônicos é um exemplo de como o real valorizado tem feito estragos na balança comercial de alguns setores. As exportações da linha branca, até então um dos carros-chefes da pauta brasileira, estão perdendo ritmo. E, por outro lado, as importações de aparelhos chineses mais baratos e de eletroeletrônicos de luxo ganham fôlego.

Segundo levantamento realizado pela Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), as exportações de eletroeletrônicos de consumo somaram US$ 318,54 milhões no primeiro semestre de 2006, uma queda de 2,12% em comparação com mesmo período do ano passado. Já as importações cresceram 60,18% - US$ 292,86 milhões no primeiro semestre de 2006, ante US$ 182,83 milhões em 2005.

Segundo o presidente da Eletros, Paulo Saab, a tendência de queda nas exportações foi verificada em todas as linhas de produtos, de portáteis a imagem e som. Mas chama a atenção o pequeno crescimento da linha branca (refrigeradores, fogões e lavadoras), tradicional motor de exportações do setor. No primeiro semestre de 2006, as exportações cresceram 1,2%. No mesmo período de 2005, haviam crescido 9,19%.

"As exportações de linha branca perderam dinamismo", diz Saab. "As empresas brasileiras são competitivas, mas estão perdendo mercado por causa do câmbio, dos altos preços dos insumos e das restrições para exportar ao Mercosul." Embora o resultado da balança setorial tenha sido positivo no primeiro semestre - US$ 25,6 milhões -, dificilmente o setor fechará 2006 com saldo positivo, segundo Saab.

O dólar baixo permitiu que mais eletroeletrônicos entrassem no País, confirmando uma tendência já verificada em 2005, quando o crescimento foi de 56,11%. Um segmento bastante impactado foi o de portáteis - como ferros de passar, aspiradores de pó e secadores de cabelo - que vêm enfrentando a concorrência de produtos chineses. As importações desses produtos aumentaram 87%.

Na linha branca, as importações também tiveram forte crescimento, de 95,67%. Um dos motivos é o aumento da procura por produtos de tecnologia mais sofisticada, ainda uma novidade no mercado brasileiro.

A coreana LG Electronics apostou nesse nicho de mercado, onde um refrigerador com TV de plasma acoplada chega a custar R$ 20 mil. "Em parte, fomos responsáveis por aumentar as importações", diz Ivo Lutfi, gerente de Linha Branca da LG Electronics. No início de 2005, segundo Kutfi, a empresa importou US$ 100 mil em produtos. No primeiro semestre deste ano, a cifra chega aUS$ 2,5 milhões. Os eletroeletrôncios são fabricados na matriz coreana. A empresa lançou sua linha branca de luxo em maio de 2005, para concorrer com produtos da Bosch e GE. "Havia demanda reprimida", diz.