Título: 'Medida não tem impacto sobre taxa de câmbio'
Autor: Nilson Bandão Júnior ... [et al]
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

Sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, ao lado de nomes como o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega e o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, o empresário Nathan Blanche é considerado um dos maiores especialistas do País em mercado de câmbio. Para ele, as medidas que serão implementadas pelo governo não terão impacto sobre as cotações do dólar - como, aliás, indicou o fechamento da moeda americana ontem. Nesta entrevista ao Estado, ele comenta o pacote anunciado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

O dólar recuou ante o real depois que o governo anunciou o pacote. Por quê?

Essa reação confirma o que vínhamos dizendo: as medidas não têm impacto sobre a formação da taxa de câmbio. É preciso entender o que acontece hoje. Os exportadores contratam ACC com um banco lá fora. Quando entregam a mercadoria ou serviço, recebem os dólares. Pela legislação atual, têm de enviar esse dinheiro de volta para o Brasil. Quando vão pagar a dívida com o banco no exterior, têm de reenviar esse valor para fora. Ou seja, o impacto se dará sobre o tamanho do fluxo cambial, mas não sobre a cotação.

Então não haveria impacto nem se a parcela fosse de 80% em vez dos 30% anunciados ontem pelo ministro?

Não. Daria na mesma.

O que fazer, então, para que o dólar se valorize?

Em primeiro lugar, não acho que o real está valorizado. Gráficos que tomam por base a taxa de câmbio em 1980 revelam que a moeda brasileira está em um bom equilíbrio. O que precisa é liberalizar a economia. Nossa corrente de comércio (soma de exportações e importações) está na casa de 30% do Produto Interno Bruto (PIB). Na China, por exemplo, esse número bate em 75%. O dólar está nesse valor porque o País tem um saldo comercial de US$ 44 bilhões. É uma mercadoria em excesso, não em falta. Os que reclamam da taxa de câmbio são aqueles que estavam acostumados a cobrir suas ineficiências à custa da depreciação da moeda brasileira. Depois da desvalorização do real, em 1999, afloraram nossas vantagens comparativas, como vemos no desempenho de setores como agricultura, extração mineral e indústria siderúrgica.

De forma geral, como o sr. avalia as medidas?

O correto seria revogar inteiramente o Decreto 23.259, de 1933, que veda a compensação privada de crédito no exterior, e não apenas a parte que se refere aos exportadores. Por conta disso, podemos até mesmo enfrentar problemas na OMC, porque pode parecer que temos um câmbio duplo, ou seja, um para importação e outro para exportação. De qualquer forma, creio que é um questionamento do qual podemos nos defender.

Quem se beneficiará das mudanças?

As empresas que, além de exportar, importam muito.