Título: 'Pacote tem rumo certo, mas é pouco'
Autor: Nilson Bandão Júnior ... [et al]
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2006, Economia & Negócios, p. B4
As medidas do pacote cambial anunciado ontem pelo governo estão na direção correta, mas o efeito ainda será limitado sobre a taxa de câmbio e a competitividade das exportações. A opinião é de empresários, representantes do setor exportador e economistas.
"É um bom começo", avaliou o presidente do Grupo Gerdau, Jorge Johannpeter Gerdau. Segundo ele, a permissão dada aos exportadores de manter até 30% dos recursos obtidos com as vendas externas fora do País poderá ser ampliada numa próxima etapa. "O Brasil vai adquirir experiência nesse processo de flexibilidade cambial."
Nas suas contas, como iniciativa de racionalização e desburocratização,o pacote deverá levar a uma redução de custos de até 2% por operação de exportação. Ele ressaltou que o pacote não provocará aumento da taxa de câmbio no curto prazo porque as empresas já fecharam o Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC).
O diretor da Fiesp e um dos formuladores do projeto de lei de reforma cambial que tramita no Congresso e serviu de base para as medidas anunciadas, Roberto Giannetti da Fonseca, elogiou o pacote. "É um passo na direção certa." Na sua opinião, um dos principais benefícios do pacote é abrir a possibilidade de empresas que têm geração de recursos em dólar reter parte do dinheiro no exterior para cumprir seus compromissos. "É uma simplificação grande do processo cambial."
Giannetti disse que temia que a CPMF fosse mantida. "Isso iria gerar um esqueleto fiscal que a qualquer momento poderia explodir." A única crítica de Giannetti é a limitação do fim da cobertura cambial a 30% dos recursos dos exportadores. "Poderia ser 100% como no projeto original de reforma cambial que a Fiesp apresentou ao Senado."
O diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, também critica a limitação de 30%. Na opinião de Silveira, o efeito do pacote sobre o câmbio será limitado. "A tentação dos exportadores de internalizar os recursos ainda será grande por causa do juro real elevado."
O economista sênior do Banco Dresdner Kleinwort, Nuno Câmara, concorda que o pacote cambial terá um efeito neutro sobre o real. Ele manteve sua previsão de que a moeda brasileira fechará este ano cotada a R$ 2,10.
Para o vice-presidente da Suzano Holding, João Nogueira Batista, é cedo para calcular o impacto financeiro das medidas. "Mas elas são positivas e estão no caminho correto." A avaliação do presidente da Abimaq, Newton Mello, também é no mesmo sentido. "Trata-se da primeira medida prática que pode diminuir o fluxo de moeda estrangeira e acender uma esperança de valorização do dólar."
Segundo o representante das montadoras, Rogelio Golfarb, "modernizar a legislação cambial é uma medida esperada pelo setor, mas ainda é cedo para avaliar o impacto direto em nossas exportações, pois os volumes estão em clara desaceleração." Nos últimos meses, duas grandes empresas, a GM e a Volkswagen, anunciaram demissões alegando queda nas exportações.