Título: Acerto com UE deve ganhar energia
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2006, Economia & Negócios, p. B10

O embaixador da União Européia no Brasil, o português João Pacheco, afirmou ontem que, com a suspensão das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), é "natural" que as negociações bilaterais como União Européia-Mercosul tenham mais "energia" e mereçam "mais tempo dos negociadores".

"Não podemos ficar sempre à espera da Rodada Doha", disse. "Quando Doha estava prestes a ter uma conclusão, fazia sentido esperar para ver a configuração da rodada para fazer outras negociações. Agora, podemos avançar nos tratados regionais."

Pacheco acredita que será mais fácil para os dois blocos regionais concluírem as negociações desta vez, depois do fracasso do fim de 2004. "Agora vai ser mais fácil", aposta. Em primeiro lugar, diz, os dois blocos já estiveram muito próximos de chegar a um acordo. E, além disso, algumas condições mudaram. Segundo ele, passou a crise econômica que atingiu principalmente a Argentina até 2004.

"A Argentina estava reticente em relação a ofertas de abertura de seu setor industrial", disse. "Agora, a indústria argentina está mais forte, acredito que o país vá ter uma posição mais ambiciosa.

A oferta agrícola européia também pode melhorar, acredita o embaixador. "Fizemos a reforma da Política Agrícola Comum (PAC), o que nos deu maior flexibilidade, como já demonstramos em nossas ofertas na Rodada Doha."

Pacheco afirma que a entrada da Venezuela não deve complicar as negociações entre UE e Mercosul. "Não vejo interesse da Venezuela de impor dificuldades. A Venezuela não tem oposição a essa negociação, eu acho", diz Pacheco.

O embaixador também não espera entraves no âmbito comercial. "Do ponto de vista comercial, a Venezuela não têm sensibilidade em muitos produtos."

Pacheco se disse "surpreso" com a suspensão da Rodada Doha. Segundo ele, o fracasso se deveu a uma "falta de flexibilidade dos Estados Unidos em um momento crítico".

"Mas, para nós da UE, Doha continua sendo muito importante e vamos fazer todos os esforços para reavivar a rodada", disse. "Há certas questões que só podem ser resolvidas no âmbito multilateral."