Título: Alckmin aposta em rejeição baixa para virar jogo no segundo turno
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2006, Nacional, p. A8

A rejeição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou a crescer, e a consolidação de um sentimento "anti-Lula"

são as apostas que o candidato tucano Geraldo Alckmin faz para ir ao segundo turno e, nele, vencer Lula. Esses fatores dificultam o crescimento do candidato petista na hipótese de um segundo turno nas eleições de outubro. Pesquisa Ibope divulgada anteontem mostrou que Lula ainda venceria no primeiro turno, mas teria dificuldade para agregar novos votos no segundo.

Lula consegue agregar apenas mais 4 pontos porcentuais (de 44%, no primeiro turno, para 48%), enquanto o tucano Geraldo Alckmin agrega 12 pontos (de 27% para 39%), mostrando uma capacidade maior de catalisar a atenção do eleitorado que, no primeiro turno, terá votado em outros candidatos.

DEPENDÊNCIA DO NORDESTE

No segundo turno, a dependência que Lula tem do voto nordestino é tão vital que ele perderia com folga a disputa se fossem computadas as outras Regiões. Pela última pesquisa Ibope, no segundo turno Alckmin venceria no Sul (46% a 40%), venceria no Sudeste (46% a 40%) e empataria no Norte/Centro-Oeste (46% a 44% para Lula). A vantagem que Lula ainda mantém no segundo turno, portanto, depende exclusivamente dos resultado do Nordeste, onde ele anotou 69% a 22% na última pesquisa Ibope.

O candidato tucano tem uma explicação simples para sua evolução: "Eram regiões onde o nível de conhecimento do eleitor era menor. A diferença vai continuar diminuindo (entre os dois candidatos) à medida que a informação chegue", disse Alckmin ao Estado.

Com um índice de rejeição de 32%, Lula passou a dispor de um "teto" (eleitorado passível de ser conquistado) de 68%, enquanto Alckmin, com uma rejeição de apenas 17%, tem a seu dispor um "teto" de 83%, segundo o cientista político Antônio Lavareda, da MCI Estratégia.

O consultor Rubens Figueiredo apresenta outras razões para a dificuldade de Lula no segundo turno. Ele alega que a "combatividade" de Lula assusta eleitores de outros candidatos. "Ele é polêmico, fala muito, comete gafes e tem um perfil político que tende a criar resistência eleitoral", acrescenta. A consultora política Cila Schulman diz que Lula construiu um universo eleitoral em que "quem não é Lula é anti-Lula", já que os dois principais candidatos além dele são adversários.

Lavareda aposta que Lula "terá dificuldades, em especial num segundo turno". Lembra que desde o final de 2004, o "ótimo/bom" do governo só superou os 40% duas vezes: em novembro daquele ano (41%) e em junho de 2006 (44%), depois da maciça campanha publicitária feita pelo governo. "Bastou parar com a propaganda para o índice voltar a cair", observa.

Lavareda prevê que, como acontece com os candidatos à reeleição, Lula terminará o primeiro turno com um porcentual de votos parecido com o "ótimo/bom" do seu governo - segundo o Ibope, de 39%. "É pouco para quem cresce mal no segundo turno", diz ele. Figueiredo concorda e cita as desvantagens de Lula: os dois principais candidatos agora terão exposição pública equilibrada; Alckmin terá mais tempo de TV; o governo não pode mais fazer propaganda; e Lula ainda terá o dilema de decidir se participa dos debates de candidatos no primeiro turno.

Petista diz que não vê novidades O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), afirmou que não há novidades na pesquisa Ibope de anteontem em relação aos levantamentos divulgados nas últimas semanas. "Persiste um quadro de liderança do presidente Lula, mas que obviamente não nos acomoda", disse o presidente do PT.

Segundo Berzoini, o partido continua trabalhando apenas com a perspectiva de uma eleição em dois turnos, considerando que uma eventual vitória no primeiro turno seria apenas um "acidente" nesse percurso. "Quando a lei prevê uma eleição em dois turnos, a eleição deve ser tratada com base nesses dois turnos", disse o deputado.

Ao comentar o crescimento dos principais adversários do presidente, Geraldo Alckmin (PSDB) e Heloísa Helena (PSOL), Berzoini afirmou que, por se tratar de uma eleição com poucos candidatos, é natural que o eleitor comece a buscar identidades nesse estágio da disputa.

Ele ressaltou, por outro lado, que a soma das intenções de voto em Alckmin e Heloísa Helena ainda deixa o presidente Lula em posição de ampla vantagem. Mesmo assim, o presidente do PT insistiu em que ainda é muito cedo para dizer ao certo o que ocorrerá nas eleições de outubro.