Título: Integrante da máfia aponta nova fraude com ambulâncias
Autor: Sérgio Gobetti, Ricardo Brandt e Mariângela G.
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2006, Nacional, p. A4

O chefe da máfia das ambulâncias, o empresário Darci Vedoin, um dos donos da Planam, afirmou que o Ministério da Saúde pagou mais caro pelas ambulâncias compradas para montar o Serviço Móvel de Urgência (Samu). O programa, lançado no fim de 2003, incluiu a aquisição de ambulâncias e a contratação de médicos para o atendimento de emergência em diversos pontos do País.

Segundo Darci, o ministério pagou R$ 122,5 mil em cada ambulância. Ele assegurou que seria capaz de entregar o mesmo produto por R$ 100 mil.

"Eu pego esse mesmo carro, se a senhora me der R$ 100 mil, eu monto, eu tenho lucro para pagar os meus funcionários, para pagar imposto, para pagar ICMS, para pagar Imposto de Renda, para mandar um motorista em cada cidade deste Brasil, pagando combustível e deixando ele três dias para poder receber da prefeitura", disse o empresário, em depoimento reservado a sete integrantes da CPI dos Sanguessugas em Cuiabá, no início do mês. Ele respondia a uma pergunta da deputada Vanessa Grazziotin (PC do B- AM) . O Estado teve acesso às transcrições do depoimento.

Darci usou o exemplo da licitação para rebater a acusação de prática de superfaturamento que pesa contra ele, atribuindo a responsabilidade ao ministério. "Onde está o superfaturamento?", perguntou. Segundo o empresário, a licitação para a compra das ambulâncias foi vencida por três fábricas grandes e o programa tirou espaço das pequenas empresas, que atuam nesse mercado.

Assim como fez seu filho, Luiz Antônio Vedoin, em seu depoimento à Justiça, Darci também contou aos parlamentares detalhes do esquema, como a abordagem de intermediários do candidato a deputado federal pelo PT do Ceará José Aírton Cirilo, integrante do diretório nacional do partido.

Os Vedoin afirmam que pagaram R$ 800 mil a Cirilo e seus intermediários em troca de gestões junto ao Ministério da Saúde para liberação de recursos referentes a 130 ambulâncias já entregues pela empresa, que estavam retidas. Segundo ele, os dois intermediários chegaram a ir a Cuiabá, com passagens pagas pela Planam - empresa central do esquema.

"Qual é o papel do José Aírton nessa questão?", indagou o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE). "A amizade dele com o Humberto Costa (o primeiro ministro da Saúde do governo Lula)", completa. Costa, que hoje é candidato do PT ao governo de Pernambuco, informa que conhece Cirilo em decorrência das relações partidárias, mas nunca discutiu com ele o assunto.

Ressalvando que não tinha provas, Darci forneceu à CPI o nome de outras quatro empresas que, como a Planam, atuam na compra de veículos e ambulâncias. Também receberiam recursos de emendas, em troca do pagamento de propina.

De acordo com o depoimento do empresário, a concorrência cresceu em 2003 e o volume de negócios da Planam começou a cair. Ele afirmou, ainda, que os deputados pediam propina "em 90% dos casos".

RESPOSTA

Procurado ontem, o Ministério da Saúde não quis comentar as denúncias. Técnicos se limitaram a dar especificações sobre o projeto e a licitação para compra de ambulâncias.

Segundo eles, o objetivo do Samu é prestar socorro rápido à população em casos de urgência, reduzindo as mortes ou complicações decorrentes da demora no atendimento. Por isso, explicaram, as ambulâncias são preparadas para garantir atendimento imediato de emergência, o que exige equipamentos de alto padrão e maior complexidade. Elas teriam estrutura reforçada, capaz de transitar por vários tipos de terreno, com tração nas quatro rodas.

Os técnicos informaram ainda que a licitação para a compra desses veículos foi realizada em cinco lotes, para que pequenas e médias empresas, como a Planam, caso desejassem, tivessem acesso à concorrência. Eles explicaram que o programa foi desenvolvido após o estudo de experiências internacionais semelhantes.