Título: Legislatura ficará na história por sucessão de escândalos
Autor: Sérgio Gobetti, Ricardo Brandt e Mariângela G.
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2006, Nacional, p. A4

As próximas eleições marcarão o fim de um período que o Congresso gostaria de esquecer. A atual legislatura - a 52ª, de janeiro de 2003 a dezembro de 2006 - foi a que revelou mais escândalos de corrupção, envolvendo deputados e senadores, incluindo os casos do mensalão e dos sanguessugas. Pior: o nível de denúncias com consistência chegou a tal ponto que parlamentares que escaparam por pouco de uma cassação estão às voltas com nova ameaça - caso de Pedro Henry (PP-MT) e Wanderval Santos (PP-SP). Os dois foram absolvidos pelo plenário da Câmara no mensalão; agora, já estão notificados pela CPI dos Sanguessugas.

Total do estrago à imagem do Congresso, sem precedentes na história do País em períodos democráticos: 90 parlamentares ainda sob investigação; quatro deputados cassados; seis renúncias para driblar as possíveis punições; e cinco parlamentares sem mandato por conta de decisão da Justiça Eleitoral, que apontou irregularidades nas campanhas de 2002. Isso, sem contar os 11 deputados acusados de participação no mensalão que acabaram sendo absolvidos pelos colegas, além do deputado José Janene (PP-PR), que aguarda julgamento e pode perder o mandato.

Anteriormente, o Congresso já passou por períodos de forte envolvimento em escândalos, mas o atual cenário supera qualquer situação vivida pelo Parlamento brasileiro em época de normalidade institucional. Entre 1993 e 1994, os congressistas tiveram sua imagem abalada pela descoberta da extensão das operações dos Anões do Orçamento.

Nessa legislatura, o Congresso passou pelo vexame de ver o presidente da Câmara - na ocasião, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) - ser obrigado a renunciar. Severino tinha grande chance de ser cassado pela acusação de cobrança de comissão para permitir o funcionamento de um restaurante dentro da Câmara.

Agora, os últimos escândalos surpreendem pela quantidade de envolvidos e pela clareza com que deputados recebiam repasses de dinheiro vivo. No mensalão, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza autorizou pagamentos diretos em favor de deputados que pertenciam ao esquema. O dinheiro era sacado diretamente numa agência do Banco Rural, em Brasília, quase sempre por assessores. A certeza da impunidade fez com que os saques fossem documentados, por registros de entrada em portarias, contabilidade do dinheiro pago e assinatura de recibos.

No escândalo dos sanguessugas, os parlamentares deixavam rastros como a apresentação de emendas e permissão para livre-trânsito de lobistas dentro do Congresso.

O principal envolvido no caso, o empresário Luiz Antônio Vedoin, disse à Justiça Federal que Adarilde Maria de Moraes Costa, atuava como lobista de alguns parlamentares ligados à Igreja Universal do Reino de Deus e produzia pessoalmente emendas individuais que interessavam ao esquema. Para isso, conforme Vedoin, ela tinha a senha individual de pelo menos seis desses deputados, apresentando a emenda em nome deles.

Segundo Vedoin, Adarilde recebia 3% sobre o valor dessas emendas. Já os parlamentares que assumiam a autoria da emenda preparada pela lobista ficavam com cerca de 10% a 15%.

O desgaste do Congresso por conta desse episódio deve se arrastar até o próximo ano. Praticamente todos os acusados são candidatos à reeleição e o assunto deve ocupar a agenda legislativa no próximo ano.