Título: Dois em cada 5 suspeitos da máfia das ambulâncias dobram patrimônio
Autor: Sérgio Gobetti, Ricardo Brandt e Mariângela G.
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2006, Nacional, p. A4

Levantamento realizado pelo Estado nas declarações de bens entregues à Justiça Eleitoral pelos 90 parlamentares notificados pela CPI dos Sanguessugas mostra que cerca de 40% dos que apresentaram informações completas em 2002 e 2006 dobraram de patrimônio nestes últimos quatro anos. O campeão de crescimento patrimonial é o deputado paulista Irapuan Teixeira (PP-SP), que aumentou seu espólio de bens em 2.371% no período. O mais rico, contudo, é o gaúcho Érico Ribeiro (PP-RS), com ações e propriedades que somam R$ 37,2 milhões, seguido de perto pelo paraibano Ricardo Rique (PL-PB), que possui R$ 34,6 milhões.

Depois de Irapuan, as maiores variações porcentuais de patrimônio são registradas pelo deputado Coronel Alves (PL-AP), que multiplicou por 10 seus R$ 42 mil de 2002, e Jorge Pinheiro (PL-DF), que declarou possuir um valor de bens 719% maior em 2006.

Entre os parlamentares suspeitos de receber propina por participar do esquema de superfaturamento de ambulâncias, chama a atenção o fato de que três dos sete baianos da lista adquiriram recentemente picapes Pajero - o líder do PP na Câmara, Mário Negromonte, seu colega de bancada, Reginaldo Germano, e o pefelista Robério Nunes.

Coincidentemente ou não, uma das moedas de troca usadas pelo empresário Luiz Antônio Vedoin para aliciar parlamentares era a doação de veículos, de acordo com seu depoimento à Polícia Federal. Na sexta-feira, a reportagem do Estado tentou obter explicações dos parlamentares baianos sobre a origem dos bens, mas suas assessorias informaram que eles estavam viajando pelo interior e não podiam ser contactados.

Apesar dos indícios oferecidos pelas declarações de bens, nem sempre elas refletem fidedignamente a situação de vida dos parlamentares. Em 2002, por exemplo, a deputada Edna Macedo (PTB-SP), apontada como uma das interlocutoras da máfia dos sanguessugas, declarou possuir um patrimônio de apenas R$ 19,00. No mesmo ano, outra deputada, Teté Bezerra (PMDB-MT), colocou em sua declaração de Imposto de Renda que possuía, em seu nome, apenas uma conta bancária com R$ 121,11. Os demais bens, segundo a parlamentar, estariam na declaração do marido, o ex-senador e ex-ministro Carlos Bezerra, também citado nas investigações.

Dos 90 parlamentares notificados, 29 não possuem informações completas que permitam uma comparação entre 2002 e 2006. Destes, 11 são parlamentares que não estão concorrendo este ano - como os três senadores em meio de mandato que integram a lista de suspeitos. Entre os demais, há quatro candidatos à reeleição que informaram não possuir bens a declarar. É o caso de Nilton Baiano (PP-ES) e Paulo Gouvêa (PL-RS), que na eleição passada também haviam fornecido uma informação apenas parcial, apresentando a lista dos bens, mas sem especificar seu valor.

A exigência de declaração de bens está prevista na Lei Eleitoral e tem por objetivo permitir que os eleitores acompanhem a evolução patrimonial dos candidatos. O problema é que, por uma lacuna da legislação, os políticos não são obrigados a fornecer explicitamente os valores de seus bens.

Além de se deparar com declarações de bens incompletas, o eleitor que quiser acompanhar a evolução patrimonial de candidatos terá outras dificuldades. Até a última eleição, os candidatos entregavam em papel suas declarações de bens. Ou seja, esse material antigo está arquivado nos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). Para obtê-lo, a reportagem do Estado teve de fazer pedidos formais aos TREs. Apenas o do Maranhão não prestou as informações.