Título: Sucesso na CPI não rende votos a Delcídio
Autor: Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2006, Nacional, p. A7

Os holofotes da CPI dos Correios, disputados por muitos parlamentares em 2005, em nada ajudaram o presidente da comissão, o senador Delcídio Amaral (PT-MS). Candidato ao governo de Mato Grosso do Sul, ele não conseguiu ainda converter em intenções de voto sua exposição nacional e a elogiada condução da CPI. Na largada da campanha, o petista aparece muito atrás do ex-prefeito de Campo Grande, André Puccinelli (PMDB), nas pesquisas eleitorais - este tem 55,7% das intenções de voto e venceria no primeiro turno. Delcídio tem 24,2% e os outros três candidatos somam pouco mais de 2%. Os índices foram divulgados há duas semanas pelo Correio do Estado.

Além disso, numa região onde showmícios e banquetes sempre foram decisivos, o senador enfrenta dificuldades para conseguir doadores, devido ao aperto na lei, provocado pela própria CPI.

Ausente do Estado enquanto apurava o escândalo de corrupção que manchou seu próprio partido, Amaral deixou o caminho livre para Puccinelli. Ex-prefeito da capital, identificado pelos eleitores com o asfaltamento das grandes avenidas às pequenas ruas da periferia de Campo Grande, Puccinelli prepara sua candidatura desde 2002, quando o governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, ganhou o segundo mandato. Enquanto Delcídio brilhava em Brasília, Puccinelli percorria o Estado conquistando prefeitos e até aliados de Zeca.

"Passei a ter uma visibilidade grande, mas isso não é o suficiente. As pessoas querem saber o que você vai fazer. E eu fiquei praticamente um ano sem fazer política no Estado. Fui prejudicado, enquanto meu adversário tinha todo o tempo do mundo", admite Delcídio.

TERRENO PERDIDO

O senador reconhece que o governo do PT errou ao priorizar o interior e deixar Campo Grande em segundo plano. Por isso, quer agora priorizar a campanha na capital, que concentra 1/3 do eleitorado do Estado. "Agora tenho que conquistar o tempo perdido", diz. No entanto, o senador é menos visto nas ruas em campanha do que nos aeroportos - ele viaja em busca de recursos. "Está muito mais difícil conseguir doadores, sem dúvida. Em função de tudo o que aconteceu, essa vai ser uma campanha espartana, de absoluta austeridade", avalia. "Vou ser monitorado pela mídia de todo o Brasil, até por causa do meu papel nesse escândalo", disse o senador ao Estado num almoço com produtores rurais em Bela Vista, na fronteira com o Paraguai. Ele declarou à Justiça intenção de gastar até R$ 8 milhões.

Um dos principais financiadores de Delcídio será o empresário Antônio João Hugo Rodrigues. O jatinho usado por Delcídio é dele. Magnata das comunicações, dono do Correio do Estado e da TV Campo Grande, Rodrigues é o suplente de Delcídio. Se este for eleito governador, lhe deixará quatro anos de mandato no Senado.