Título: Não sei quando sou presidente ou candidato, diz Lula
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2006, Nacional, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que vai continuar anunciando projetos, mesmo que seja sábado, domingo ou qualquer outro dia da semana. No seu primeiro discurso de campanha no Rio Grande do Sul, Lula reclamou que o anúncio de medidas de ajuda à indústria do Estado, feito no dia anterior, tivesse sido tratado como uma medida eleitoreira, mas afirmou que é complicado ser presidente e candidato ao mesmo tempo.

"Eu queria ter vindo anunciar hoje. Mas achei melhor não e mandei a ministra Dilma (Roussef, da Casa Civil) anunciar sem a minha presença. E quando eu vi a imprensa hoje, trataram o anúncio como se fosse uma questão eleitoreira", disse. "Querem saber de uma coisa? Vou continuar fazendo o que precisa ser feito. Não importa se for sábado, domingo, segunda ou quarta."

Lula determinou o lançamento ontem de uma linha de financiamento de R$ 600 milhões para setores que têm produção concentrada no Sul e deram férias coletivas diante da valorização cambial. O crédito é voltado principalmente às indústrias de móveis, calçados e máquinas agrícolas, que pedem ajuda desde o ano passado.

O crédito para os três setores industriais é a terceira medida anunciada pelo governo nesta semana para ajudar setores exportadores mais prejudicados pelo câmbio. Na quarta-feira, foi lançado um pacote cambial e anteontem, linha de financiamento para montadoras.

Lula começou seu discurso ontem, para cerca de 3 mil militantes petistas em São Leopoldo, reclamando de cansaço e da dificuldade em separar o papel de candidato do de presidente. "Ser presidente da República e candidato é meio complicado. É quase inseparável", disse Lula.

O presidente chegou ao Rio Grande do Sul tentando recuperar o espaço perdido na região para o candidato tucano Geraldo Alckmin. Sob um frio de oito graus, e atrasado uma hora, o presidente foi imediatamente do aeroporto para São Leopoldo, onde encontrou os candidatos ao governo do Estado, Olívio Dutra, e ao Senado, Miguel Rosseto. No grupo que acompanhou o presidente, todos os ministros gaúchos: Dilma Roussef, da Casa Civil, Tarso Genro, das Relações Institucionais, Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário, além do ministro da Educação, Fernando Haddad, que é paulista.

ÔNIBUS DO PT

Apesar do número reduzido frente aos milhares que compareciam aos comícios em anos anteriores, os militantes mostravam entusiasmo. A maioria veio das cidades da região metropolitana de Porto Alegre.

Muitos chegaram a pé, mas a maioria embarcou nos ônibus contratados pelo PT gaúcho para garantir a lotação do ginásio.

Com jingles repetidos à exaustão em altíssimo volume, as bandeiras vermelhas do PT voltaram a aparecer. Mas, no palco, mais uma vez predominou o azul, verde e amarelo dos comícios anteriores. Antes de Lula, discursaram Rosseto, Olívio, a candidata a vice de Olívio, Jussara Cony (PC do B), e o prefeito de São Leopoldo, Ari Vanazzi. Em nenhum momento se tocou nos escândalos de corrupção que abalaram o governo.

Olívio, o último a falar antes de Lula, acusou os governos de "não fazerem o que precisa ser feito e acusar o governo federal". Rosseto fez o papel de lembrar os investimentos federais no Estado, as famílias atendidas pelo Bolsa Família e a criação do seguro agrícola.

Lula venceu, no Rio Grande do Sul, todas as eleições desde o segundo turno de 1989. Mas as últimas pesquisas mostram que o presidente perdeu espaço na região. Pela primeira vez, o candidato tucano, Geraldo Alckmin, aparece na frente do presidente nas pesquisas.