Título: Queda do compulsório está na lista de bondades
Autor: Leandro Modé
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2006, Economia & Negócios, p. B3

De forma mais discreta, a equipe econômica também estuda a possibilidade de reduzir os depósitos compulsórios que os bancos são obrigados a deixar no Banco Central. Os elevados compulsórios são um dos argumentos dados pelas instituições financeiras para manter os altos spreads (diferença entre as taxas de captação e as de empréstimo).

No Ministério da Fazenda e no BC, a hipótese é oficialmente negada. Mas fontes ouvidas pelo Estado informaram que o governo verifica o melhor momento para iniciar esse processo, de modo a não comprometer a trajetória de queda das taxas de juros. Isso porque a redução dos compulsórios pode elevar o crédito e, por sua vez, o consumo e, possivelmente, mais à frente, a inflação.

¿Ao lado da Selic, os compulsórios são uma arma importante para reduzir a inflação. Se liberarmos antes da hora, podemos atrapalhar a queda dos juros¿, comentou a fonte. Os bancos têm cobrado a redução dos compulsórios, alegando que impedem queda mais acentuada do spread bancário. Segundo as instituições financeiras, como esse dinheiro fica parado no BC, com rentabilidade abaixo do mercado, isso encarece o custo do crédito, que é utilizado para compensar esse prejuízo.

¿O que precisamos é reduzir os compulsórios e agora é uma época muito boa, porque a inflação está sob controle e podemos expandir a demanda¿, disse o diretor-executivo do Banco Itaú, Sérgio Werlang.

Ex-diretor do BC e autor de um estudo sobre spread bancário, Werlang avalia que uma redução do compulsório não barraria a continuidade da queda dos juros, já que a taxa básica está chegando a um nível de equilíbrio de longo prazo e agora está na hora de aproveitar esse momento, já que as expectativas de inflação estão contidas. ¿Já havia espaço para reduzir há algum tempo.¿

Além dos compulsórios, Werlang aponta o direcionamento do crédito (obrigação que os bancos têm de emprestar seus recursos a setores específicos) como um entrave importante para queda do spread. Ele citou, entre eles, o direcionamento de 25% dos depósitos à vista para o crédito rural.

O economista-chefe da Febraban, Roberto Troster, concorda. ¿Tem que reduzir os compulsórios e os subsídios cruzados¿, disse. ¿Para compensar os financiamentos obrigatórios que não têm rentabilidade, os bancos cobram mais caro nos outros¿, argumentou.