Título: Lula cobra da equipe 'choque de crédito'
Autor: Leandro Modé
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2006, Economia & Negócios, p. B3
Nos primeiros meses do seu governo, em meio a críticas contra a elevação dos juros pelo Banco Central (BC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu a equipe econômica e cobrou um ¿choque de crédito¿ e medidas de incentivo à redução do juro final cobrado dos clientes bancários. É o mesmo discurso que se ouve agora nos bastidores da equipe econômica.
Falou-se muito, na ocasião, em dar prioridade a financiamento para pequenas e médias empresas e no uso dos bancos oficiais (Banco do Brasil, Caixa e BNDES) como instrumento para forçar os concorrentes (os bancos privados) a cortar juros. Lula também chamou para conversas reservadas dirigentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Na época, uma das preocupações era mostrar que o seu governo era diferente do anterior, apesar de ter nomeado o ex-banqueiro e ex-tucano Henrique Meirelles para presidir o Banco Central.
Passados mais de três anos e meio e em plena campanha pela reeleição, o presidente Lula retoma a agenda e volta a cobrar uma ação mais forte para a redução do spread (o que os bancos cobram dos clientes, na forma de juros, para cobrir seus custos de funcionamento, seus lucros e a taxa de risco). Tal como naquela época, o spread resiste a cair, apesar dos cortes que o Banco Central faz na taxa básica da economia, a Selic.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não esconde a insatisfação com o que avalia ser uma atitude de ¿pouco empenho¿ dos diretores do BC em estimular a redução efetiva do spread. Ele tomou para si a tarefa e agora, após o anúncio do pacote cambial, quer concentrar as baterias nessa direção de olho também em colher frutos agora que os juros estão caindo e as eleições se aproximando.
O Ministério da Fazenda e o BC têm pronta uma agenda conjunta de medidas para estimular essa queda. Ela chegou a avançar em alguns pontos nos primeiros dois anos do governo, mas foi asfixiada pela subida da Selic e depois pela paralisia da equipe econômica com o envolvimento do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci em denúncias de corrupção que acabaram lhe custando o cargo.
No início do governo, Palocci chegou a se reunir com a direção da Febraban, que se comprometeu a colaborar na redução do spread e na ampliação do crédito. Grupos de trabalho foram criados, mas pouco se avançou.
A primeira tentativa mais organizada de atacar o problema do spread no Brasil começou no fim de 1999, quando a equipe do ex-presidente do BC, Armínio Fraga, divulgou estudo e agenda de medidas para curto, médio e longo prazos. De lá para cá, foram tomadas várias medidas, entre elas a redução do IOF sobre operações de crédito de pessoas físicas, novo sistema de pagamentos, cédula de crédito bancário, consignação em folha de pagamento, ampliação da alienação fiduciária em garantia, derivativos de crédito, conta investimento, nova lei de falências, central de risco de crédito, transferência de cadastros e melhoria das informações dos clientes.
De 99 até agora, a Selic subiu, caiu, subiu de novo e está caindo mais uma vez. Mas, entre picos e quedas, o spread, de junho de 2000 a junho deste ano, não saiu do lugar: passou de 28,37 para 28,02 pontos porcentuais.