Título: Exportador resiste ao câmbio
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2006, Economia & Negócios, p. B5

A maior parte das empresas exportadoras abriu mão de rentabilidade para continuar no mercado, apesar do dólar barato. Reduzindo seus preços, elas conseguiram manter o volume de exportações no ano passado. Mas o cenário é mais para sobrevivência do que expansão. Elas não pretendem contratar novos funcionários tão cedo. Essas são as principais conclusões de uma pesquisa realizada em maio pela Agência de Promoção às Exportações (Apex-Brasil) com 32 entidades setoriais e à qual o Estado teve acesso. A pesquisa investigou como as empresas estão sobrevivendo ao câmbio desfavorável.

O levantamento mostra que alguns setores, como café, frutas, camarões e carne bovina, pretendem aumentar as exportações por meio da abertura de novos mercados e, em alguns casos, com a eliminação de restrições sanitárias impostas por alguns países aos produtos brasileiros. Porém, problemas como a febre aftosa (que ataca bovinos, suínos, ovinos e caprinos), a doença de Newcastle (que ataca aves) e a ferrugem asiática (que ataca a soja) tornam essa aposta arriscada. A União Européia, recentemente, deu sinais de que pretende restringir a compra de vários produtos, de mel a ovos, por causa de problemas sanitários.

Há setores, porém, que não vão conseguir driblar o dólar barato. Setores mais fortemente afetados pelo câmbio, como calçados, móveis e têxteis, estão prevendo queda nas exportações. Esses setores, segundo a Apex, além da redução do volume exportado, ainda tiveram dificuldades para negociar reajustes de preços.

Para sobreviver no mercado internacional, algumas empresas estão mudando a estratégia de venda, procurando exportar produtos mais sofisticados e, portanto, ganhando em valores e não em volume. O presidente da Apex, Juan Quirós, disse que a agência reduziu os recursos para promoção de produtos que competem com os chineses e intensificou as ações para agregar valor aos produtos e procurar nichos de mercado.

¿Nós estamos fazendo um projeto de móveis de alto design tendo como referência a Itália e a Espanha porque, se o empresário focar móveis como os que a China faz, vai perder mercado. Então, muitas vezes, é melhor recuar, mudar e levar um produto melhor para não confrontar a concorrência¿, explicou Quirós.

Segundo ele, com exceção dos setores de calçados, móveis e têxteis, muitas empresas têm procurado o apoio da Apex para ingressar ou intensificar sua presença internacional. As empresas que participam dos projetos da Apex representam 68% da pauta de exportação brasileira. ¿A Apex apoiou quase metade do total de empresas exportadoras em 2005¿, disse Quirós.

A pesquisa da Apex identificou ainda que as empresas de pequeno porte são as mais afetadas pela valorização do real. Com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a Apex constatou que, das 4.038 empresas que deixaram o mercado externo no ano passado, 82% exportavam até US$ 100 mil por ano.

Somente 7% (283 empresas) exportaram de forma contínua, entre 1997 e 2004. As demais tentaram o mercado internacional em 2004 e desistiram no ano seguinte. ¿São nestes 7% que, de fato, tivemos uma perda real, porque quando exporta continuamente e sai é porque perdeu mercado.¿

Mais da metade (2.304) das empresas que pararam de exportar eram indústrias, principalmente dos setores de calçados e couro, têxteis e vestuário, móveis, máquinas e equipamentos. Uma grande parte também eram tradings, empresas responsáveis por intermediar as vendas. Todas apontaram como causa a perda de rentabilidade por causa do câmbio.

Quirós acredita que a redução da base exportadora é temporária, de ajuste às novas condições do mercado internacional. ¿O câmbio ainda é um referencial importante, mas o mais importante é que as empresas estão entendendo que isso é temporário e um processo natural de ajuste. Estou convencido de que o Brasil vai aumentar sua base exportadora.¿ Segundo ele, 3.185 empresas começaram a exportar em 2005, o que significa uma redução líquida da base exportadora de 853 empresas.