Título: 'Falar em defasagem é absurdo'
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2006, Economia & Negócios, p. B3

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse ontem que os preços da gasolina e do diesel no varejo não estão defasados no Brasil. "Não há defasagem, é um equívoco, é análise de analistas aligeirados" , disse Gabrielli em entrevista ao Estado, após concluir em Londres uma rodada de contatos com investidores estrangeiros na qual apresentou o plano de investimentos da estatal.

Gabrielli respondeu duramente às críticas do presidente do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, que disse que a estatal está evitando aumentar os preços dos derivados de petróleo por motivos eleitorais. "Isso é um comentário completamente irresponsável e absurdo desse analista. Ele está fazendo o jogo de alguém, por razões políticas, provavelmente defendendo um candidato que é dele." Segundo Gabrielli, a Petrobrás não alterou a atitude que vem mantendo nos últimos três anos e meio em relação aos combustíveis.

Segundo Pires, a defasagem da gasolina em relação ao mercado externo é de 16% a 18% e, no caso do diesel, 14% a 15%. "Dificilmente a Petrobrás vai deixar de fazer o reajuste após a eleição", afirmou. O reajuste, de acordo com especialista, poderá vir em etapas para não ter muito impacto sobre a inflação e sobre a popularidade do governo.

"Alguns analistas equivocados andam calculando por aí defasagens de preços no curto prazo e comparando preços de bomba de gasolina de um lugar com outro", insistiu Gabrielli. "Eles estão enganados." Ele observou que a gasolina chega nos postos com a mistura do álcool e com uma estrutura tributária completamente diferente da americana. Além disso, 75% dos carros novos vendidos no País são equipados com motores flexíveis.

"Portanto, o mercado brasileiro tem um grau de flexibilidade de alternativa de combustível, de possibilidade de ajuste, que nenhum outro mercado tem. E, se você olhar o preço que o consumidor brasileiro paga hoje pelo litro de gasolina - considerando o preço de refinaria, os impostos, a margem da distribuição e do posto -, verá que é maior do que paga o consumidor nos Estados Unidos."

VOLATILIDADE Gabrielli acredita que os preços internacionais do petróleo, que subiram recentemente por causa da crise no Oriente Médio, vão continuar em níveis elevados, voláteis, mas não em constante alta. Segundo ele, a relação entre a demanda e a oferta está muito equilibrada.

"Isso faz com que qualquer choque - seja geopolítico, da natureza, ou de natureza sazonal - provoque várias e intensas flutuações nos preços e elas tendem a ser maiores porque não há um colchão entre a oferta e demanda." "Mas isso não significa que os preços vão subir continuamente", acrescentou.