Título: Pouco visível, segurança já reprime manifestações
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

O encontro dos líderes do G-8 começa hoje, em São Petersburgo, sob um forte esquema de segurança e com um prévio trabalho de repressão a manifestações agendadas em paralelo. Organizações antiglobalização, como a Trade Union Solidarity Action Commitee e a Second Russian Social Forum, denunciaram a prisão de 100 ativistas nos últimos dias.

O jornal The Saint Petersburg Times registrou na edição de anteontem a condenação de 12 ativistas a períodos de 10 a 15 dias de prisão, sob acusações como "urinar na rua" e "xingar a polícia" e o indefinido pretexto de "violência". Uma manifestação de correntes contrárias à reunião do G-8 havia sido marcada para acontecer entre hoje e segunda-feira, mas foi abortada pelas autoridades policiais.

Além de barrar tumultos considerados habituais em reuniões de líderes mundiais e demonstrar a ordem que prevalece na Rússia, o principal objetivo das forças de segurança foi evitar a repetição do dramático episódio que antecipou o fim da reunião de cúpula em 2005, em Gleaneagles, na Escócia. Em 7 de julho, três trens do metrô de Londres e um ônibus foram atingidos por explosões que causaram cerca de 50 mortes.

O presidente russo, Vladimir Putin, precaveu-se. Há cinco dias, seu governo anunciou a morte do líder rebelde checheno Shamil Basayev em uma operação especial. Basayev foi responsável pelos piores ataques terroristas na Rússia nos últimos anos. Mas, diferentemente do que aconteceu em maio de 2004, em Brasília, na Cúpula da América do Sul e do Mundo Árabe, em São Petersburgo não há soldados armados, veículos militares nem franco-atiradores espalhados pela cidade. Pouco visível, o aparato de segurança concentrou-se nos controles e na movimentação de policiais à paisana. O número de soldados envolvidos não é divulgado.

O aeroporto será fechado a partir da tarde de hoje, quando começa o desembarque dos chefes de Estado do G-8 e dos países convidados - Brasil, China, África do Sul, Índia, México e Congo. O controle das fronteiras foi reforçado em colaboração com as polícias européias.

A imprensa foi concentrada em um pavilhão do Palácio dos Congressos,no Golfo da Finlândia, a 15 quilômetros do centro de São Petersburgo. Trata-se de um complexo isolado, com um centro de negócios, uma reserva histórica e cultural e um conjunto residencial para convidados de conferências. Jornalistas - 3.500 credenciados - e funcionários chegam ao local depois de duas travessias de barco e de uma passagem pelos controles de segurança.

Os chefes de Estado vão se reunir no Palácio Constantino, construído no século 18 e restaurado para as comemorações dos 300 anos da cidade, em 2003. Todos serão transportados por embarcações, sob pesado aparato de segurança.

O Palácio Constantino foi completamente bloqueado. Será liberado apenas para fotógrafos oficiais e alguns que obtiverem a autorização de ingresso em raros eventos. Esse severo esquema deverá impedir que se repitam situações de embaraço para os seguranças, como a que ocorreu em Viena, na Cúpula União Européia-América Latina, em maio. No momento em que os líderes estavam a postos para a fotografia oficial, uma argentina conseguiu entrar e desfilou de biquíni e com um cartaz de movimentos contrários à instalação de uma fábrica de celulose na fronteira do Uruguai com a Argentina.